30 de ago. de 2008

QUAIS SÃO AS CAUSAS DO BOCEJO?

Auto-retrato do pintor francês Joseph Ducreux (1735-1802)
Que se pintou bocejando nesta tela de 1873


O bocejo é um fenômeno comum e caracteriza-se por ser um reflexo involuntário. Embora ainda não se saibam as suas causas, ele é um fenômeno evolutivamente antigo. Todos os mamíferos e a maioria dos vertebrados bocejam. Em situações de tédio, respira-se de forma mais lenta e, à medida que o nível de gás carbônico aumenta no sangue e a oxigenação nos alvéolos pulmonares diminui, uma mensagem é enviada ao hipotálamo, no cérebro, pedindo mais oxigênio. De lá, são liberados vários neurotransmissores que induzem o bocejo e reações simultâneas em todo o corpo: a boca abre-se e a pessoa inspira uma grande quantidade de ar, que é enviado aos pulmões; os músculos alongam-se para melhorar a circulação; e a freqüência de batimentos cardíacos aumenta. Assim, a sensação de cansaço diminui e o corpo volta ao estado de alerta. O bocejo seria então uma resposta à necessidade de uma respiração profunda para despertar o corpo e assim eliminar o excesso de gás carbônico no sangue. Bocejos podem ocorrer em atletas olímpicos nos minutos que antecedem à competição e em violonistas prestes a entrar no palco para executar um concerto. Embora ainda não se saibam os mecanismos exatos envolvidos no bocejo, provavelmente estão relacionados a uma tentativa de relaxamento. Já autistas e esquizofrênicos, que vivem em um mundo psíquico isolado e distante do contato com outras pessoas, por razões ainda desconhecidas, não bocejam. Um dado curioso, cuja causa é igualmente desconhecida: quando um indivíduo boceja, outras pessoas também passam a bocejar.

Monica Levy Andersen e Sergio Tufik
Departamento de Psicobiologia
Universidade Federal de São Paulo

O NASCIMENTO DA MEDICINA NO BRASIL

Retrato de José Corrêa Picanço (1745-1824)
Cirurgião-mor do reino que acompanhou a
familia real na sua vinda para o Brasil e
ajudou a fundar a Escola de Cirugia da Bahia.
óleo sobre tela de pintor não identificado
Há 200 anos eram criadas as escolas de cirurgia da Bahia e do Rio de Janeiro A vinda da família real portuguesa para o Brasil, em 1808, deu início a uma série de transformações profundas na colônia, que se tornou, a partir de então, o centro do império lusitano. Essa migração, motivada pela ameaça de invasão de Portugal pelas tropas napoleônicas, propiciou, além da criação de uma complexa estrutura para administrar as possessões portuguesas, a fundação de instituições necessárias ao governo do império e à europeização da corte nos trópicos. É nesse contexto que surgem instituições importantes como a Biblioteca Nacional, o Jardim Botânico e a Imprensa Régia e são criadas as escolas de cirurgia da Bahia e do Rio de Janeiro, que viabilizaram o processo de institucionalização da medicina no país.
Até o princípio de século 19, as práticas de cura na América portuguesa eram realizadas por diferentes personagens ligados a esse tipo de exercício. Cirurgiões barbeiros, boticários, sangradores, curandeiros e feiticeiros ocupavam o espaço aberto pela falta de médicos, que eram uma raridade na colônia. Salvo exceções, os poucos que ali exerciam o ofício tinham pouco prestígio e conhecimento. A escassez desses profissionais no vasto território português na América tornou-se uma das preocupações do príncipe regente, D. João VI. Assim, uma de suas primeiras medidas após a chegada da corte à colônia foi criar um curso de formação de cirurgiões. Em sua passagem por Salvador, fundou, por meio da carta régia de 18 de fevereiro de 1808, a Escola de Cirurgia da Bahia, sob orientação de José Corrêa Picanço (1745-1824), cirurgião-mor do reino que acompanhava a família real no ‘exílio’. A escola foi instalada no Hospital Real Militar da capital baiana e oferecia, no início de suas atividades, apenas duas disciplinas: Cirurgia especulativa e prática e Anatomia e operações cirúrgicas. O curso funcionou nesses moldes até 1815, quando foi transferido para a Santa Casa de Misericórdia e transformado em Academia Médico-Cirúrgica da Bahia por ocasião da primeira reorganização do ensino médico. O marco de fundação da Escola Anatômica, Cirúrgica e Médica do Rio de Janeiro foi, segundo o historiador da medicina Lycurgo de Castro Santos Filho, a nomeação do cirurgião Joaquim da Rocha Mazarém (1775-1849) para a cadeira de anatomia no Hospital Militar da corte em 2 de abril de 1808. Por meio de decretos do príncipe regente, foram criadas novas disciplinas, como terapêutica cirúrgica e particular, ministrada pelo cirurgião José Lemos de Magalhães, e medicina clínica, teórica e prática e princípios elementares de farmacêutica, a cargo do médico José Maria Bomtempo (1774-1843), antigo físico-mor de Angola, autor de substanciosa bibliografia sobre a medicina de sua época.
Silvio Cezar de Souza Lima
Programa de Pós-graduação em História das Ciências da Saúde (doutorando)
Casa de Oswaldo Cruz
Fundação Oswaldo Cruz (RJ)

DARWIN: MUITO FAMOSO E POUCO LIDO

O naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882)

Darwin: muito famoso e pouco lido Artigo celebra 150 anos da teoria da evolução por seleção natural, que explica a origem das espécies
O naturalista inglês Charles Darwin (1809-1882).Nascido no século 19, Charles Robert Darwin é o cientista mais conhecido e reconhecido no século 21, superando em notoriedade gigantes como o físico inglês Isaac Newton (1643-1727), o filósofo alemão Karl Marx (1818-1883), o neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939) e o físico alemão Albert Einstein (1879-1955). Darwin foi o criador da teoria evolutiva que explica a origem de todas as espécies por meio da seleção natural. Essa teoria, após ter sido elaborada por ele durante décadas, foi lançada a público há exatos 150 anos, com a leitura, em sessão da Royal Society, principal academia de ciências da Inglaterra, de cartas do próprio Darwin e do também inglês Alfred Wallace (1823-1913), que chegou bem mais tarde a conclusões semelhantes. Embora tenha mudado radicalmente a forma como o homem percebia a natureza, a teoria da evolução dificilmente explica o enorme prestígio que Charles Darwin tem ainda hoje. Na verdade, a contribuição de Darwin para o desenvolvimento do conhecimento humano vai muito além da teoria evolutiva: ele foi pioneiro na geologia, criando teorias importantes para o surgimento de ilhas oceânicas e explicações corretas para os mecanismos que geram os movimentos ascendentes da cordilheira dos Andes. Para o biólogo austríaco Konrad Lorenz (1903-1989), Darwin foi ainda o iniciador da etologia, ciência que estuda o comportamento dos animais. Além disso, pode ser considerado o mentor da moderna ecologia, por ter criado os conceitos de ‘nicho ecológico’ e ‘ecossistema’, ao afirmar que cada espécie ocupa um lugar determinado (nicho) na “economia da natureza” (ecossistema). Nessa mesma área, Darwin demonstrou a importância fundamental, para o funcionamento dos ecossistemas, de relações como competição, predação e mutualismo entre os seres vivos e interações entre estes e o ambiente. Na taxonomia, a rainha das ciências biológicas, ele fez contribuições notáveis, criando os conceitos de ‘espécies em estado nascendi’ e de ‘espécie fóssil’. Naturalista, biólogo, etólogo, taxonomista, geólogo, ecólogo e, como se fosse pouco, pai da biogeografia. Suas contribuições fundamentais em todas essas ciências podem explicar por que Darwin é um gigante entre gigantes.

Ricardo Iglesias Rios
Departamento de Ecologia, Instituto de Biologia,
Universidade Federal do Rio de Janeiro.

O BRASIL VISTO POR DARWIN

Charles Darwin, na época
em que esteve no Brasil
Historiador da ciência resgata passagem do naturalista pelo Rio e pelo Nordeste nos anos 1830 Charles Darwin retratado pelo pintor inglês George Richmond (1809-1896) na época em que passou pelo Brasil. Recém-formado, aos 24 anos, Darwin era o naturalista de bordo do Beagle. Em 2008, comemoram-se 150 anos da teoria da seleção natural, proposta em conjunto pelos naturalistas britânicos Charles Darwin (1809-1882) e Alfred Wallace (1823-1913). A efeméride é a ocasião de relembrar a passagem dos dois naturalistas pelo Brasil e a contribuição das observações feitas por ambos em nosso país para a formulação da teoria que mudou a biologia. A passagem de Darwin pelo Brasil foi o foco da conferência do físico e historiador da ciência Ildeu de Castro Moreira na reunião anual da SBPC. Moreira, que dirige o Departamento de Popularização e Difusão da Ciência do Ministério da Ciência e Tecnologia, está tentando reconstituir os diferentes passos da passagem do naturalista inglês pelo país e está envolvido na organização de vários eventos comemorativos dos 150 anos da teoria da seleção natural. Darwin passou pelo Brasil a bordo do Beagle, navio encarregado de dar a volta ao mundo fazendo medições importantes para a marinha britânica. Recém-formado, aos 24 anos, Darwin era o naturalista de bordo, incumbido de fazer observações geológicas e biológicas durante a expedição. Na viagem, que durou quase cinco anos, o inglês coletou material e fez observações que, mais tarde, o colocariam na trilha da seleção natural. Algumas das primeiras escalas do Beagle foram feitas na costa brasileira, em Fernando de Noronha, Salvador, Abrolhos e no Rio de Janeiro, onde Darwin passou quatro meses. “Darwin ficou hospedado em Botafogo, que era então um bairro nobre e tranqüilo, onde nobres e embaixadores tinham sítios”, conta Moreira. “Estamos tentando identificar a localização exata da casa em que ele ficou, provavelmente na atual rua São Clemente.” Em 1836, após completar a circunavegação, o Beagle fez novas escalas no Brasil, em Salvador e Recife, em seu caminho rumo à Inglaterra. A deslumbrante natureza foi o que mais chamou a atenção de Darwin em sua passagem pelo Brasil. Seu diário de bordo e as notas de viagem reunidas anos mais tarde em livro (A viagem do Beagle, disponível em português) refletem o encanto do jovem inglês com a luxuriante paisagem tropical. “Delícia é um termo fraco para exprimir os sentimentos de um naturalista que, pela primeira vez, se viu perambulando por uma floresta brasileira”, escreveu Darwin sobre sua passagem por Salvador. Seu relato é repleto de adjetivos deslumbrados que exaltavam “a exuberância geral da vegetação”, “a elegância da grama”, “a beleza das flores” ou “o verde lustroso da folhagem”. Humanismo e preconceito A enseada de Botafogo retratada pelo pintor britânico Conrad Martens (1801-1878) em 1832, mesmo ano em que Darwin passou quatro meses na cidade. As notas de viagem de Darwin refletem também sua visão sobre a sociedade brasileira. Em várias passagens, elas manifestam o humanismo do naturalista, que recrimina reiteradas vezes a escravidão contemplada por ele no país. Mas Ildeu Moreira lembra também que as observações do inglês denotam certo preconceito em algumas passagens. Sua impaciência com a burocracia brasileira, por exemplo, ou sua decepção com os modos rudes com que foi tratado por certos habitantes locais motivaram comentários pouco simpáticos à população brasileira em suas anotações. “Darwin fez algumas generalizações sobre os brasileiros e às vezes julgava as pessoas pela sua aparência ou pela forma como se vestiam”, diz Moreira. O historiador da ciência chama a atenção também para outro aspecto interessante que se sobressai das anotações feitas por Darwin em sua passagem pelo Brasil. Esses relatos mostram como o inglês foi ajudado por habitantes locais em suas incursões pela mata e nas expedições para coleta de material biológico. Moreira lembra que esses guias, geralmente omitidos nos relatos científicos dos naturalistas, aparecem mais claramente nos relatos de viagem, escritos em estilo mais solto. “Os índios, escravos e crianças que ajudavam os naturalistas do século 19 tinham um conhecimento que, depois de catalogado e registrado, foi incorporado ao acervo da ciência mundial”, afirma Moreira. “Isso não representa um demérito para esses cientistas, mas nada teria sido feito sem a ajuda desses guias. Não podemos perder a perspectiva de que a ciência dependia do conhecimento das populações nativas.”

NOSSAS RAÍZES NO ESPAÇO


Fragmento do meteorito Murchison em exposição
no Museu de História Natural de Washington
Nossas raízes no espaço Compostos orgânicos essenciais à vida vieram mesmo de fora do planeta, sustenta novo estudo
Nos últimos cerca de 170 anos, resultados experimentais aquecem (ou, por vezes, esfriam) uma polêmica científica com alto conteúdo filosófico: teriam os elementos essenciais ao início da vida vindo do espaço? Agora, novas análises de um meteorito longamente conhecido pelos especialistas apresentam resultados que insuflam um pouco a resposta na direção de um ‘sim’. O artigo, que ganhou grande repercussão na mídia, foi publicado na revista Earth and Planetary Science Letters (v. 270, pp. 130-136, 2008). A pesquisadora Zita Martins, do Instituto de Química de Leiden (Holanda), e colegas apresentam novos resultados que sustentam a idéia de que os componentes orgânicos já estavam presentes muito cedo no Sistema Solar e podem ter desempenhado um papel-chave na origem da vida. Esses compostos podem ter sido trazidos tanto à Terra quanto aos demais corpos planetários por meio de fontes exógenas, como os condritos carbonáceos. Esses meteoritos são uma mistura de constituintes formados em diferentes temperaturas: i) os côndrulos (objetos redondos que dão nome a esse grupo de meteoritos), formados a temperaturas muito altas, por minerais ricos em silício, magnésio, cálcio e alumínio; ii) a matriz (material rico em carbono), que serve para aglutinar os côndrulos e é formada a temperaturas muito baixas.
Fragmento do meteorito Murchison em exposição no Museu Nacional de História Natural, em Washington, capital dos Estados Unidos (foto: The National Museum of Natural History / Washington).O meteorito Murchison, um condrito carbonáceo com cerca de 100 kg que se despedaçou ao cair em 1969 perto de uma vila na Austrália de mesmo nome, contém uma quantidade substancial de carbono, cerca de 3% de seu peso. As técnicas analíticas modernas empregadas por Martins e colegas (que limitaram as possíveis contaminações com compostos orgânicos terrestres) permitiram chegar a resultados que tanto sustentam aqueles obtidos anteriormente por outros grupos quanto trazem novidades: “os componentes orgânicos do meteorito Murchison teriam uma origem não terrestre”, escreveu a equipe.
UMA IDÉIA ANTIGA
A idéia de que elementos vitais para a formação e o desenvolvimento da vida tenham vindo de fontes extraterrestres começou em 1834, com as primeiras demonstrações do químico sueco Jakob Berzelius (1779-1848) sobre a presença de materiais orgânicos no condrito carbonáceo Alais (caído em 1806, na França). Em 1859, estudos semelhantes foram feitos em um meteorito do mesmo tipo, o Kaba (1857, Hungria). Desde então, não cessaram os esforços pela busca de processos capazes de sintetizar compostos orgânicos. Esses experimentos recriavam as condições existentes nos primórdios da formação da atmosfera terrestre. Um dos trabalhos mais conhecidos é o do químico norte-americano Stanley Miller (1930-2007), que, em 1953, mostrou que os aminoácidos (‘tijolos’ das proteínas) podem ser sintetizados a partir de moléculas mais simples. Essa visão popularizou-se com os mais variados e extensos trabalhos voltados à divulgação científica feitos por Carl Sagan (1934-1996): “Uma potencial fonte alternativa de bases nitrogenadas [parte constituinte das moléculas de DNA] é o material orgânico que chegou à Terra por meio dos cometas, dos asteróides e de seus fragmentos, bem como das partículas de poeira interplanetária”, escreveu, em 1992, esse astrônomo norte-americano juntamente com um colega. Mas qual é a história dessas moléculas orgânicas? Devemos lembrar que elementos químicos como o ferro, alumínio, cálcio, silício, oxigênio e carbono, entre outros, foram (e ainda são) criados pela fusão de núcleos atômicos (nucleossíntese) nas estrelas, que se comportam como reatores nucleares e produzem a matéria que vaga pelo meio interestelar. É ali, nesse meio, onde começou a formação das moléculas orgânicas, que, juntamente com os demais compostos químicos, dariam origem a uma ‘nuvem’ molecular. É nessa nuvem que ocorre o nascimento de novas estrelas e de seus sistemas planetários (por exemplo, a nebulosa solar, a partir da qual o Sistema Solar se formou, fragmentou-se de uma nuvem desse tipo). Portanto, esse conjunto de gás e poeira era rico em moléculas orgânicas.
EVENTOS ALTAMENTE ENERGÉTICOS
É muito provável que essas moléculas não tenham sobrevivido às diferentes etapas que levam à formação dos planetas, como a aglomeração de matéria (acresção), o impacto com outros objetos etc., pois todas elas envolvem eventos altamente energéticos, com temperaturas extremamente altas. Mas o constante fluxo de material extraterrestre para a Terra (por meio de meteoritos, micrometeoritos etc.) foi o responsável por trazer para o planeta moléculas orgânicas, que, no entanto, tiveram que enfrentar condições igualmente extremas para poder sobreviver às primeiras fases de uma atmosfera terrestre em formação. Esse aporte de matéria extraterrestre continuou (e segue sendo constante desde então). Por exemplo, estudos já mostraram que a Terra recebe mais de 100 toneladas diárias de micrometeoritos, matéria extraterrestre cinco vezes mais rica em carbono que os condritos carbonáceos. A natureza teve que utilizar diversos caminhos e investir bilhões de anos em um trabalho paciente e incansável. Toda a matéria orgânica que foi inorganicamente sintetizada – resultado de processos violentos, como sínteses de elementos, radiações cósmicas, entre outros, em uma nuvem fria por bilhões de anos – teve que enfrentar eventos ainda mais extremos: a formação do Sol e seu conjunto de planetas há 4,5 bilhões de anos, bem como a passagem abrasadora pela atmosfera primitiva, possivelmente há 4 bilhões de anos. Mas tudo isso não foi suficiente! Essa matéria orgânica teria que, além disso, ser depositada em um ambiente propício, no qual a água líquida estivesse presente, para desenvolver as primeiras células com capacidade de auto-reprodução, que, em última instância, permitiram o desenvolvimento da vida como a conhecemos hoje na Terra. Os elementos essenciais para a origem da vida teriam, então, vindo do espaço? Trabalhos como o de Martins e colegas reforçam a idéia de que sim. Mas essa pergunta ainda está longe de ter uma resposta definitiva.
Maria Eugenia Varela
Complexo Astronômico El Leoncito (San Juan, Argentina)
Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas

ESPÉCIES DE COBRAS VENENOSAS NO BRASIL


A jararaca-do-rabo-branco (Bothrops leucurus) pertence
ao gênero responsável por nove entre dez acidentes com
serpentes peçonhentas no Brasil
Quantas espécies de cobras venenosas existem no Brasil?

No mundo existem por volta de 2.930 espécies de cobras ou serpentes. O Brasil abriga 321 delas – aproximadamente 10% do total –, das quais apenas 36 são peçonhentas. As serpentes peçonhentas brasileiras são divididas em duas famílias: Viperidae e Elapidae. A família Viperidae é composta por cinco gêneros, sendo os mais conhecidos o gênero Bothrops, que inclui espécies como a jararaca, o urutu-cruzeiro e a jararacussu; o gênero Crotalus, ao qual pertence a cascavel; e o gênero Lachesis, cuja espécie mais conhecida é a surucucu-pico-de-jaca. Já a família Elapidae é composta por dois gêneros, Leptomicrurus e Micrurus, e as espécies de ambos são chamadas vulgarmente de corais verdadeiras. A ocorrência de acidente ofídico está geralmente relacionada a fatores climáticos e ao aumento da atividade humana no campo. O pé e a perna das pessoas são os locais mais atingidos (71% dos casos), seguidos da mão e do antebraço (13% dos casos). Segundo a Coordenação Nacional de Controle de Zoonoses e Animais Peçonhentos (CNCZAP), 90,5% dos acidentes ofídicos são causados pelo gênero Bothrops, 7,7% pelo gênero Crotalus, 1,4% pelo gênero Lachesis e 0,4% pelo gênero Micrurus. É bom lembrar que, caso uma pessoa seja picada por uma cobra, não se deve fazer torniquete, cortar ou furar a região da picada. A vítima deve ser mantida em repouso e levada com urgência para o atendimento médico.

Kathleen Fernandes Grego
Laboratório de Herpetologia,
Instituto Butantan (SP)

29 de ago. de 2008

TERAPIA DA SÍNDROME DO MEMBRO FANTASMA

Os amputados posicionavam-se na caixa de espelho de tal modo que visualizavam a imagem de sua perna remanescente (no caso a esquerda), como se fosse a perna amputada. Os expérimentos solicitavam que mentalizassem movimentos da perna amputada de modo a imitar os movimentos feitos com a perna existente. Reproduzido de Brodie et al.(2007)
Como se livrar dos fantasmas? A outra parte não resolvida é que não se consegue tratar as percepções fantasmas. Tentou-se de tudo: acupuntura, emprego de analgésicos e anestésicos locais no coto, psicoterapia, cirurgia para a remoção das extremidades dos nervos do coto, transformadas às vezes em pequenos tumores, medicamentos de ação central no cérebro, estimulação elétrica ou magnética do cérebro. Nada deu certo.
Foi quando Ramachandran, em 2000, propôs um tratamento engenhoso que acendeu as esperanças para os amputados. Ele pensou o seguinte: se o cérebro interpreta como braço a ativação da região cerebral correspondente porque aprendeu assim durante toda a vida, por que não tentar reeducá-lo, para que “se convença” de que aquela parte do corpo não existe mais? O aparato proposto para “reeducar” o cérebro foi uma simples caixa com um espelho, defronte ao qual o indivíduo realizava uma série de movimentos com o braço remanescente. Este era visto ao espelho como se fosse o braço ausente, pretendendo-se com isso que o cérebro imitasse mentalmente, para o braço amputado, os movimentos feitos para o braço existente. Ramachandran relatou algum sucesso com essa terapia, mas um estudo mais controlado feito recentemente pelo pesquisador Eric Brodie, do Departamento de Psicologia da Universidade Caledônia de Glasgow, na Escócia, trouxe mais dúvidas do que certezas. Brodie e seus colaboradores reuniram 80 amputados do membro inferior, de ambos os sexos e diferentes idades, e os submeteram a um aparato com espelho à maneira de Ramachandran (ver figura acima). Cada amputado realizava 10 movimentos reais com o membro existente, repetidos 10 vezes, e ao mesmo tempo 10 movimentos imaginários com o membro ausente, também repetidos 10 vezes. Depois respondiam a questionários para avaliar se suas sensações fantasmas haviam se modificado. Em um aspecto, os resultados foram negativos. Os participantes, em conjunto, relataram diminuição nas sensações fantasmas, inclusive a dor. Só que o grau de melhora relatado não foi diferente do que indicaram os experimentos de controle, nos quais os amputados posicionavam-se na caixa, mas sem o espelho. Um efeito placebo, provavelmente. O lado positivo foi que os amputados testados no espelho tiveram maior número de sensações de movimentos realizados pelo membro ausente (movimentos fantasmas) em relação aos controles. Os pesquisadores foram otimistas em sua interpretação geral dos dados do experimento. E se as sensações de movimento pudessem ser provocadas pelo pensamento dos amputados? Nesse caso, melhoras talvez pudessem ser obtidas se os amputados fossem educados a imaginar movimentos fantasmas com o membro ausente. Uma terapia diferente, baseada na imaginação! TERAPIA POSTA EM PRÁTICA
Uma considerável redução da dor fantasma crônica foi obtida pela terapia de imaginação de movimentos. Modificado de McIver et al. (2008). A idéia foi imediatamente executada por outro grupo britânico, no Instituto de Pesquisas sobre Dor, de Liverpool. O grupo, liderado por Kate McIver, mobilizou 13 amputados de membro superior com fortes dores fantasmas, treinando-os durante seis semanas a imaginar movimentos com o braço ausente. Antes do treinamento, eles haviam verificado por neuroimagem que a representação dos lábios havia invadido o território cortical que devia representar o braço amputado, como já se sabia. Após o treinamento, os pacientes relataram uma diminuição significativa da intensidade da dor fantasma, e a imagem cerebral revelou a redução da “invasão” pela representação dos lábios. Esses trabalhos têm, é claro, um significado prático relevante para o tratamento das sensações fantasmas que acometem os amputados. Mas têm também um significado mais conceitual, relacionado aos “poderes da mente”. A maioria dos neurocientistas acredita que o cérebro determina a mente – a famosa visão monista de tradição materialista. Mas os experimentos com as terapias imagéticas recolocam em pauta o outro lado dessa questão: a mente pode também “determinar” o cérebro, no sentido de que o pensamento, a imaginação e o exercício mental são capazes de fisicamente modificar os circuitos neurais e a representação das funções no cérebro. A natureza nos surpreende, mais uma vez.
Roberto Lent Professor de Neurociência Instituto de Ciências Biomédicas Universidade Federal do Rio de Janeiro

A SINDROME DO MEMBRO FANTASMA

O cérebro é feito de mapas – do corpo, do mundo externo, dos sons do ambiente. Nos amputados, o mapa fica incompleto, mas os espaços "vazios" são logo preenchidos pelas regiões adjacentes .


Um mistério de fantasmas se revela aos poucos Neurociência tenta tratar com o poder da mente a dor do membro ausente dos amputados
As pessoas que sofreram amputação de uma parte do corpo sabem perfeitamente que não é alucinação ou mentira: elas têm de fato diversas sensações nessa parte ausente. Alguém que perdeu um braço, por exemplo, pode sentir dor nele ou ter a sensação precisa de que moveu os dedos ausentes para realizar uma tarefa qualquer. Geralmente essas sensações desagradáveis são provocadas por movimentos imaginários, inteiramente anômalos e forçados, como se as articulações se movessem no sentido antinatural, provocando dor. Essas estranhas percepções de regiões do corpo que não existem mais são conhecidas há muito pela humanidade, e chamadas atualmente síndrome do membro fantasma. A síndrome ocorre em cerca de 85% dos amputados, e suas manifestações podem variar desde um calor prazeroso até uma intensa coceira que não tem solução... porque não há o que coçar. Os neurocientistas já têm uma explicação parcial para o fenômeno, embora seu mecanismo preciso ainda não seja conhecido. Pior: os médicos não têm como tratá-lo, embora mais de 60 estratégias clínicas, cirúrgicas, psicológicas e alternativas já tenham sido propostas. Quem são os fantasmas?
O cérebro é feito de mapas – do corpo, do mundo externo, dos sons do ambiente. Nos amputados, o mapa fica incompleto, mas os espaços "vazios" são logo preenchidos pelas regiões adjacentes . Grande contribuição à compreensão da síndrome do membro fantasma foi dada pelo pesquisador indo-americano Vilayanur Ramachandran, autor de inúmeros trabalhos sobre o tema. Ramachandran e seus colaboradores investigaram o cérebro dos amputados utilizando técnicas de neuroimagem funcional, capazes de identificar as áreas cerebrais ativas quando as diversas partes do corpo são estimuladas. Ao tocar levemente o coto ou regiões corporais adjacentes, em pessoas que perderam um dos braços, o grupo descobriu que as áreas cerebrais ativadas eram as que anteriormente representavam o braço ausente. Isso significa, primeiro, que a amputação não fez desaparecer as áreas cerebrais correspondentes; e, segundo, que essas áreas passaram a receber informação de outras partes do corpo. A questão é que o cérebro do indivíduo aprendeu durante muitos anos de sua vida, antes da amputação, que a ativação daquela região específica devia ser interpretada como “braço”. Por isso, estímulos incidentes no coto, no ombro ou mesmo no queixo – um simples movimento involuntário, ou a passagem suave do vento – são percebidos como algo sentido no membro ausente. Até aí tudo bem. Mas o que de fato acontece no cérebro dos amputados? Será que as fibras nervosas que transmitem a informação das regiões adjacentes se deslocam e “invadem” a área cerebral que ficou sem função? Ou será que já havia anteriormente conexões “silenciosas” ligando no cérebro as diferentes regiões corporais, e essas conexões tornaram-se funcionais com a amputação? Essa é uma parte da história que ainda permanece misteriosa.

Roberto Lent Professor de Neurociência Instituto de Ciências Biomédicas Universidade Federal do Rio de Janeiro

O BRASIL VISTO POR DARWIN

Darwin na época da viagem


Historiador da ciência resgata passagem do naturalista pelo Rio e pelo Nordeste nos anos 1830 Charles Darwin retratado pelo pintor inglês George Richmond (1809-1896) na época em que passou pelo Brasil. Recém-formado, aos 24 anos, Darwin era o naturalista de bordo do Beagle. Em 2008, comemoram-se 150 anos da teoria da seleção natural, proposta em conjunto pelos naturalistas britânicos Charles Darwin (1809-1882) e Alfred Wallace (1823-1913). A efeméride é a ocasião de relembrar a passagem dos dois naturalistas pelo Brasil e a contribuição das observações feitas por ambos em nosso país para a formulação da teoria que mudou a biologia. A passagem de Darwin pelo Brasil foi o foco da conferência do físico e historiador da ciência Ildeu de Castro Moreira na reunião anual da SBPC. Moreira, que dirige o Departamento de Popularização e Difusão da Ciência do Ministério da Ciência e Tecnologia, está tentando reconstituir os diferentes passos da passagem do naturalista inglês pelo país e está envolvido na organização de vários eventos comemorativos dos 150 anos da teoria da seleção natural. Darwin passou pelo Brasil a bordo do Beagle, navio encarregado de dar a volta ao mundo fazendo medições importantes para a marinha britânica. Recém-formado, aos 24 anos, Darwin era o naturalista de bordo, incumbido de fazer observações geológicas e biológicas durante a expedição. Na viagem, que durou quase cinco anos, o inglês coletou material e fez observações que, mais tarde, o colocariam na trilha da seleção natural. Algumas das primeiras escalas do Beagle foram feitas na costa brasileira, em Fernando de Noronha, Salvador, Abrolhos e no Rio de Janeiro, onde Darwin passou quatro meses. “Darwin ficou hospedado em Botafogo, que era então um bairro nobre e tranqüilo, onde nobres e embaixadores tinham sítios”, conta Moreira. “Estamos tentando identificar a localização exata da casa em que ele ficou, provavelmente na atual rua São Clemente.” Em 1836, após completar a circunavegação, o Beagle fez novas escalas no Brasil, em Salvador e Recife, em seu caminho rumo à Inglaterra. A deslumbrante natureza foi o que mais chamou a atenção de Darwin em sua passagem pelo Brasil. Seu diário de bordo e as notas de viagem reunidas anos mais tarde em livro (A viagem do Beagle, disponível em português) refletem o encanto do jovem inglês com a luxuriante paisagem tropical. “Delícia é um termo fraco para exprimir os sentimentos de um naturalista que, pela primeira vez, se viu perambulando por uma floresta brasileira”, escreveu Darwin sobre sua passagem por Salvador. Seu relato é repleto de adjetivos deslumbrados que exaltavam “a exuberância geral da vegetação”, “a elegância da grama”, “a beleza das flores” ou “o verde lustroso da folhagem”. Humanismo e preconceito A enseada de Botafogo retratada pelo pintor britânico Conrad Martens (1801-1878) em 1832, mesmo ano em que Darwin passou quatro meses na cidade. As notas de viagem de Darwin refletem também sua visão sobre a sociedade brasileira. Em várias passagens, elas manifestam o humanismo do naturalista, que recrimina reiteradas vezes a escravidão contemplada por ele no país. Mas Ildeu Moreira lembra também que as observações do inglês denotam certo preconceito em algumas passagens. Sua impaciência com a burocracia brasileira, por exemplo, ou sua decepção com os modos rudes com que foi tratado por certos habitantes locais motivaram comentários pouco simpáticos à população brasileira em suas anotações. “Darwin fez algumas generalizações sobre os brasileiros e às vezes julgava as pessoas pela sua aparência ou pela forma como se vestiam”, diz Moreira. O historiador da ciência chama a atenção também para outro aspecto interessante que se sobressai das anotações feitas por Darwin em sua passagem pelo Brasil. Esses relatos mostram como o inglês foi ajudado por habitantes locais em suas incursões pela mata e nas expedições para coleta de material biológico. Moreira lembra que esses guias, geralmente omitidos nos relatos científicos dos naturalistas, aparecem mais claramente nos relatos de viagem, escritos em estilo mais solto. “Os índios, escravos e crianças que ajudavam os naturalistas do século 19 tinham um conhecimento que, depois de catalogado e registrado, foi incorporado ao acervo da ciência mundial”, afirma Moreira. “Isso não representa um demérito para esses cientistas, mas nada teria sido feito sem a ajuda desses guias. Não podemos perder a perspectiva de que a ciência dependia do conhecimento das populações nativas.”

COMO SURGIU O AGUARDENTE (PINGA)

Gravura de Debret (Brasil colonial)

Antigamente, no Brasil, para se ter melado, os escravos colocavam o caldo da cana-de-açúcar em um tacho e levavam ao fogo. Não podiam parar de mexer até que uma consistência cremosa surgisse. Porém um dia, cansados de tanto mexer e com serviços ainda por terminar, os escravos simplesmente pararam e o melado desandou. O que fazer agora? A saída que encontraram foi guardar o melado longe das vistas do feitor. No dia seguinte, encontraram o melado azedo, fermentado. Não pensaram duas vezes e misturaram o tal melado azedo com o novo e levaram os dois ao fogo. Resultado: o 'azedo' do melado antigo era álcool que aos poucos foi evaporando e formou no teto do engenho umas goteiras que pingavam constantemente. Era a cachaça já formada que pingava. Daí o nome 'PINGA'. Quando a pinga batia nas suas costas marcadas com as chibatadas dos feitores ardia muito, por isso deram o nome de 'ÁGUA-ARDENTE'. Caindo em seus rostos escorrendo até a boca, os escravos perceberam que, com a tal goteira, ficavam alegres e com vontade de dançar. E sempre que queriam ficar alegres repetiam o processo.

PERGAMINHOS DO MAR MORTO NA INTERNET


Pergaminhos do Mar Morto caem na rede
Os pergaminhos do Mar Morto são um assunto fascinante, não importa se você viu ou não o anime Neon Genesis Evangelion. Não bastasse serem documentos de mais de 2 mil anos encontrados em cavernas na Cisjordânia ao longo do século 20 E serem a cópia mais antiga já encontrada da Bíblia em hebraico, as teorias da conspiração que envolvem os manuscritos são inúmeras. Boa parte dos documentos ficou escondida do público até a década de 90. Alguns conspiracionistas defendem que vários deles permanecem censurados até hoje por conter textos apócrifos que mudariam tudo o que se sabe sobre o cristianismo e o judaísmo . Outros vão além e dizem que os pergaminhos contêm profecias a respeito de alguns probleminhas que estariam por vir, como o o fim dos tempos e a aniquilação da humanidade (é mais ou menos esse o caso em Evangelion).Agora cientistas ligados à Autoridade Israelense de Antiguidades anunciaram que estão fotografando digitalmente os mais de 9 mil fragmentos, e que pretendem disponibilizar os pergaminhos para o público na web em cerca de 2 anos. Muitos dos pergaminhos estão em exposição permanente no Museu de Israel. Alguns deles já vieram até para o Brasil, em 2004.

CAETANO DE BRONCA COM A CRÍTICA DA IMPRENSA PAULISTA

Caetano Veloso
Estou tão enfronhado no Rio com esse projeto da Obra em Progresso que tenho me sentido longe à beça de São Paulo. Vim aqui fazer o show com o Rei no belo teatrinho do Niemeyer no Ibirapuera e senti o tamanho da saudade que eu estava de Sampa. O teatro é elegante e induz à quietude. Se o show fosse no Ginásio do Ibirapuera, o ruído dos aplausos assustaria a boba da Folha e o burro do Estadão que escreveram sobre o show. Há anos não leio nada tão errado sobre música brasileira - e, mais uma vez, envolvendo Roberto Carlos e este transblogueiro que vos fala. Se eu tivesse direito a convite, teria chamado Augusto de Campos para estar presente ao encontro: foi ele quem escreveu o primeiro texto de apoio crítico à Jovem Guarda, prefigurando o tropicalismo e opondo a energia da turma de Roberto e Erasmo à pretensão da turma de Elis. São Paulo é isso. Quando vi a Ponte Otávio Frias em frente aos prédios pós-modernos da Marginal Pinheiros (prefiro prédios pós-modernos aos chamados modernos que encheram nossas cidades de desarmonia, em nome da racionalidade) me senti esperançoso. Dei entrevista a Jô (onde disse isso) e segui para o lançamento do livro do Mangabeira na Casa das Rosas. Agora (já às duas e meia da manhã) o provincianismo fraco dos articulistas dos dois grandes jornais locais não conseguiu abalar essa sensação. O Brasil de Tom, que é o Brasil que precisa estar à altura da bossa nova, cresce para fora e para longe do Brasil dos débeis de cabeça e de coração.
Escrevo isso só para mostrar aos que comentaram as críticas hilárias da província paulistana que também li e que fiquei com pena dos dois fanfarrões que não sabem nem escrever. O do Estadão então é inacreditável. Como é que qualquer editor deixa sair um texto com tantos erros de português, tantas redundâncias e obscuridades, tamanha incapacidade de articular pensamentos? A da Folha não sabe pensar mas exprime de forma primária esse seu não-saber. O outro, nem isso. O texto dele é tão mal escrito que a gente tem de adivinhar o que ele pensa - e chega à evidência de que pensa errado. Mas de alguma forma o artigo da mulher parece ser mais prejudicial do que o do cara. Não respondo aqui a ela nem a ele. Nada digo aos jornais que os publicaram. Deixo aos leitores paulistanos que viram o show. Eles vão escrever protestando. Os jornais talvez publiquem algumas das cartas.
Texto: Blog Caetano Veloso
www.obraemprogresso.com.br

FENÕMENO SOLAR É VISTO EM SÃO PAULO

Halo solar visto em Campinas - (Foto: Marcos Ribolli-G1)

Fenômeno solar é visto nos céus de SP
Círculo colorido apareceu em várias regiões do estado. Foi possível ver um arco-íris redondo em volta do sol.
Muita gente parou nas ruas de várias cidades de São Paulo por volta das 12h desta sexta-feira (29) para ver um bonito fenômeno natural no céu. Um círculo colorido chamado de halo solar pelos astrônomos.
O fenômeno se forma quando os raios do sol são refletidos pelos cristais de gelo que estão suspensos no ar. Dependendo do tipo de nuvem, é possível ver um arco-íris redondo em volta do sol.

28 de ago. de 2008

RELAÇÃO DE MARIA MADALENA E JESUS

Maria Madalena - Pintura de Francesco Hayez-Sec. XIX

Maria Madalena e Jesus tinham relação de aluna e mestre, dizem especialistas
Após exorcismo, mulher teria passado a seguir Cristo como discípula Palestina afora.Idéia de que os dois teriam casado e tido filhos não possui dados concretos a seu favor.
A maioria dos que estudam as origens do cristianismo tem poucas dúvidas: Maria Madalena cumpriu um papel importante entre os primeiros seguidores de Jesus, era uma das companheiras mais devotadas de Cristo e foi uma das primeiras a testemunhar sua fé na ressurreição do mestre. Mas, ao que tudo indica, a idéia de que os dois foram casados e tiveram filhos não passa de uma mistura de imaginação hiperativa moderna com brigas políticas de antigas seitas cristãs.
Explica-se: todos os textos que insinuam uma proximidade mais carnal entre Maria Madalena e Jesus são pelo menos cem anos mais recentes que os Evangelhos oficiais, tendo sido escritos por pessoas que queriam justamente desafiar as visões mais ortodoxas do cristianismo, as quais começavam a se firmar. Se a pesquisa mais sóbria enterra, por um lado, o romantismo à la "Código da Vinci", também demonstra, por outro, um dos aspectos mais radicais da missão religiosa de Jesus: o tratamento aparentemente igualitário dado às mulheres.

De fato, ao contrário de todos os líderes religiosos judeus antes e depois dele (antes da época moderna, claro), Cristo não via problema algum em ter seguidores dos dois sexos. "Duas das qualidades extraordinárias de Jesus são o fato de que ele recrutava seguidores e era itinerante. Mas o que é ainda mais incomum é o fato de ele recrutar seguidores do sexo feminino e masculino e viajar com ambos", escreve Ben Witherington III, especialista em Novo Testamento do Seminário Teológico Asbury (Estados Unidos).

Ambos os fatos seriam considerados escandalosos para os judeus do século I, para quem as mulheres deveriam ficar em casa com seus maridos e, quando viajassem, teriam de ser acompanhadas por parentes do sexo masculino. Segundo o padre John P. Meier, professor da Universidade de Notre Dame em Indiana (EUA) e autor dos livros da série "Um Judeu Marginal", sobre a figura histórica de Jesus, o escândalo é um ótimo motivo para acreditar que esse grupo de seguidoras, incluindo Maria Madalena, realmente existiu.
CONSTRANGEDORA
Essa visão advém do chamado critério do constrangimento, que é uma das principais ferramentas usadas pelos historiadores para decidir se um fato narrado nos Evangelhos realmente aconteceu com Jesus. A idéia é que os evangelistas não teriam motivos para criar uma narrativa que pudesse causar problemas para sua pregação por ser potencialmente constrangedora. Ao mesmo tempo, sentiriam a necessidade de relatar a situação embaraçosa nos casos em que ela era de conhecimento geral e, portanto, não poderia ser simplesmente omitida.

Meier acredita que o critério do constrangimento pode ser aplicado a vários acontecimentos-chave da vida de Maria Madalena relatados no Novo Testamento. Um deles é a expulsão de sete demônios do corpo da mulher, graças ao poder de Jesus. Outra é a presença da ex-possessa durante a crucificação e sepultamento de Cristo. Finalmente, há o relato de que ela teria falado com o próprio Jesus ressuscitado, talvez até antes dos apóstolos.

"É improvável que os primeiros cristãos tenham se dado ao trabalho de lançar dúvidas sobre a confiabilidade de uma testemunha tão importante [da ressurreição de Jesus] transformando-a numa antiga endemoninhada", escreve Meier. O historiador acredita, portanto, que Maria Madalena realmente foi exorcizada por Jesus num momento crucial de sua vida, e especula que isso levou a mulher a se tornar discípula de Cristo.
DE MAGDALA PARA JERUSALÉM
O nome "Madalena" indica que Maria nasceu em Magdala, um vilarejo de pescadores na costa noroeste do mar da Galiléia -- a mesma região onde Jesus cresceu, portanto. Ela, porém, não era a única seguidora do mestre galileu -- os Evangelhos citam pelo nome uma série de outras mulheres, como Joana, mulher de um administrador do tetrarca (governador) da Galiléia, Herodes Antipas. Além de acompanhar as pregações de Jesus, essas mulheres parecem ter ajudado a financiar as andaças de Cristo pela Palestina, colocando seus próprios bens à disposição dele.

Existe algum indício de uma relação mais próxima entre Jesus e a mulher de Magdala durante esse período? Zero, parece ser a resposta. Na verdade, nenhum dos textos do Novo Testamento dá qualquer indicação de que Jesus tenha, em algum momento, tido filhos ou se casado. Alguns estudiosos afirmam que, para um judeu do século I, o casamento era quase considerado uma obrigação religiosa, ligado ao mandamento de "crescer e multiplicar-se" presente no livro bíblico do Gênesis.

Acontece, porém, que Jesus não era um judeu comum, e tampouco vivia em uma época comum. Com efeito, algumas seitas e grupos mais radicais da época, como os chamados essênios, defendiam o celibato e chegavam a viver como "monges". Além disso, enquanto os textos bíblicos mencionam várias vezes a família de Jesus, não há menção alguma a mulher e filhos. Para John P. Meier, o mais provável é que eles nunca tenham mesmo existido, e que Jesus tenha sido celibatário como sinal do compromisso exigido por sua missão religiosa.

O certo é que Maria de Magdala, ou Madalena, aparentemente acompanhou Jesus até seu confronto final com as autoridades judaicas em Jerusalém, testemunhando sua morte e não saindo do lado dele mesmo quando muitos dos apóstolos fugiram. No relato da visão que ela teve do Ressuscitado, no Evangelho de João, ela exclama "Rabouni!" (algo como "meu professor", "meu mestre" em aramaico) ao reconhecê-lo.

"Jesus então diz a ela uma frase que normalmente é traduzida como 'não me toque', mas na verdade quer dizer 'não se segure em mim' ou algo do tipo", diz Ben Witherington III. "A idéia do evangelista é que ela não deve ficar presa ao Jesus do passado, mas sim sair dali e anunciar o Jesus ressuscitado", afirma o teólogo. Essa é a última vez em que Maria Madalena aparece no Novo Testamento. Não há detalhes confiáveis sobre o resto de sua vida.
BEIJOS POLEMICOS

De onde surge, então, a lenda do caso de amor entre mestre e aluna? De uma série de textos, a maioria deles encontrados no Egito e escritos em copta, como é conhecida a língua egípcia durante a época romana. (Acredita-se que muitos desses textos foram originalmente compostos em grego, e alguns desses originais foram achados.) O mais famoso deles é o Evangelho de Filipe, no qual Maria Madalena é descrita como a "companheira" de Jesus e diz-se que Cristo "costumava beijá-la com freqüência".

Acontece que todos esses textos parecem ter sido compostos no ano 200 da nossa era, ou até mais tarde, e compartilham uma mesma teologia, a do gnosticismo. Os gnósticos acreditavam numa espécie de revelação secreta e esotérica que lhes dava o verdadeiro conhecimento para a salvação, ao contrário da massa "ignara" dos demais cristãos. Essa opinião era combatida por outros grupos do cristianismo, que se consideravam os sucessores de apóstolos como Pedro e Paulo.

Com isso, Maria Madalena passou a ser usada pelos gnósticos como um símbolo do "conhecimento verdadeiro" que tinham de Jesus, e como a verdadeira predileta de Cristo, da qual eles seriam seguidores. Esse aspecto polêmico e tardio de tais textos torna bastante improvável que eles se baseiem em alguma memória histórica envolvendo a Maria Madalena real.

Texto: Reinaldo J.Lopes (G1-SP)

O MISTÉRIO DA MATÉRIA NEGRA


Choque de duas galáxias ajuda a desvendar mistério da matéria negra

Uma gigantesca colisão entre duas galáxias, detectada pelos telescópios espaciais Hubble e Chandra X-Ray, permite distingüir claramente a misteriosa matéria escura da matéria comum, segundo os resultados de trabalhos de astrônomos americanos.
As imagens ópticas mostram, graças a uma técnica de coloração, a matéria escura passar (em azul), sem ser contida, através de montes de matéria comum, sobretudo de gases quentes, que apareciam em rosa pelo raios X, explicam.
Essa descoberta é considerada importante porque confirma os resultados de uma observação anterior, de 2006, do amontoado galático Bullet gerado por uma enorme colisão entre duas galáxias.
"Segundo acreditamos, essa última observação é uma etapa-chave para a compreensão das propriedades da misteriosa matéria escura", considera Marusa Bradac, astrofísico da Universidade da Califórnia em Santa Barbara e principal autor desse comunicado.
"A matéria negra é cinco vezes mais abundante que a matéria comum no universo", acrescenta.
Os cerca de 72% restantes são, supõem os astrofísicos, a energia de vida que explicaria a aceleração da expansão do universo, apesar da força gravitacional.
"Esse estudo confirma o fato de que nós estamos diante da presença de uma matéria muito diferente daquela que conhecemos e da qual somos feitos", prosseguiu Marusa Bradac.
Como com o Bullet em 2006, esse último amontoado galático (oficialmente chamado de MACSJ0025.4-1222), situado a 5,7 bilhões de anos-luz da Terra, mostra uma clara separação entre matéria negra e matéria comum.
A colisão de dois amontoados de galáxias de uma massa respectiva de milhões de bilhões de vezes a do nosso Sol se produz a velocidades de dezenas de milhões de km/h, segundo esses astrofísicos.
Após o choque, a velocidade dos gases de cada um dos amontoados galáticos se reduz, mas não a da matéria negra, ressaltam os pesquisadores, cujos trabalhos serão publicados na próxima edição do Astrophysical Journal.

26 de ago. de 2008

ENCONTRADA ESTÁTUA DE IMPERADOR ROMANO




Arqueólogos desenterram estátua de imperador romano
Peças de mármore revelam figura de Marco Aurélio, que reinou durante 19 anos.
Arqueólogos desenterraram na Turquia partes de uma estátua gigante do imperador romano Marco Aurélio.
Os especialistas encontraram a cabeça, o braço direito e partes inferiores das pernas da estátua em um sítio arqueológico na antiga cidade de Sagalassos, no sudoeste do país.
Foi no mesmo local que a equipe liderada pelo arqueólogo Marc Waelkens, da Universidade Católica de Leuven, na Bélgica, encontrou, há pouco mais de duas semanas, a cabeça de uma estátua da imperatriz Faustina, a Velha.
No ano passado, os arqueólogos já haviam encontrado em Sagalassos uma estátua gigante do imperado Adriano.
Os pesquisadores acreditam que o local onde as estátuas estavam reunidas era provavelmente um frigidário, uma sala enorme com uma piscina de água fria, onde romanos se banhavam após mergulhar nas termas.
O sítio arqueológico faz parte de um complexo de termas romanas que está sendo cuidadosamente escavado pelos especialistas há 12 anos. O local teria sido atingido por um terremoto entre os anos 540 e 620 d.C., destruindo muitas estátuas.

Reprodução fiel
Os fragmentos da estátua de Marco Aurélio começaram a ser desenterrados no dia 20 de agosto, quando os arqueólogos encontraram um par de pernas quebradas na altura do joelho. Em seguida, acharam um braço direito com 1,5 metro de comprimento, cuja mão segurava um globo terrestre.
Mas foi ao encontrar a enorme cabeça de mármore que os pesquisadores identificaram a estátua como sendo de Marco Aurélio.
Marc Waelkens disse que a peça é uma das reproduções mais fiéis do imperador, que reinou do ano 161 d.C a 180d.C.
Marco Aurélio é lembrado por suas escrituras e já chegou a ser considerado mais como "um filósofo do que um soldado".
Mas apesar de sua paixão por filosofia, ele passou boa parte de seu reinado lutando contra tribos germânicas ao longo do rio Danúbio, na Áustria, onde morreu em 180 d.C.
Em 2000, o ator Richard Harris fez o papel de Marco Aurélio no filme O Gladiador.
Junto com Nerva, Trajano, Adriano e Antonio Pio, Marco Aurélio foi um dos "Cinco Bons Imperadores" de Roma.
Em geral, as administrações desses imperadores foi marcada por relativa paz e prosperidade política, militar e económica.

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