8 de mar. de 2014
5 de mar. de 2014
A MÃE DE TODAS AS GUERRAS
A catapulta foi uma das mais revolucionárias armas inventadas pela humanidade. A partir dela, as máquinas - e não o homem - é que decidiam as batalhas
Texto Fabiano Onça
Em 1304, o rei Eduardo 1º da Inglaterra cercou o castelo de Stirling, na Escócia. Lá resistiam os últimos guerreiros que, anos antes, haviam apoiado a rebelião antiinglesa promovida pelo escocês William Wallace. Sem conseguir demolir as sólidas muralhas, Eduardo 1º apelou. Ergueu um engenho conhecido como trebuchet – uma máquina de atirar pedras, parente gigante da catapulta. Por 10 semanas, um batalhão de 50 operários cortou 20 grandes carvalhos para construir o monstro, ali mesmo, no local do cerco. O colosso intimidou de tal modo os defensores que, antes mesmo de ser concluído, fez com eles tentassem se render. Mas Eduardo queria testar o brinquedão. Com pedras de 150 quilos, o rei inglês devastou as muralhas e tomou o castelo, em um cerco como o do infográfico destas páginas. Só aí aceitou a rendição. O terror vivido pelos defensores do castelo de Stirling não era algo novo. O sentimento havia sido experimentado há pelo menos 2 400 anos, com a invenção das pioneiras armas de sítio ou de cerco – categoria que tem na catapulta sua representante mais célebre, mas inclui ainda onagros, oxibeles, trebuchets e outras engenhocas construídas de acordo com a criatividade de inúmeros povos da Antiguidade e da Idade Média. No terreno militar, o impacto dessa novidade literalmente não deixou pedra sobre pedra. Até então, os exércitos eram formados apenas pela infantaria (tropas que avançam a pé) e a cavalaria (tropas que avançavam a cavalo e, hoje, em veículos blindados). A partir das catapultas, eles passaram a contar também com uma terceira arma: a artilharia, especializada no lançamento de projéteis a grande distância. Simplesmente não havia mais cidade – não importava o tamanho do muro – que pudesse resistir a um ataque persistente. E, quanto maior, melhor: engenhos gigantescos como os trebuchets da página anterior fizeram com que o pânico tomasse conta dos defensores como nenhuma outra arma. Afinal, tomar uma pedrada enorme ou ser varado por uma superflecha desmoronava qualquer um.
PAI DESCONHECIDO
Em termos técnicos, as armas de cerco aproveitavam os princípios de funcionamento de duas armas muito antigas, mas também muito eficientes: o arco e a funda, espécie de corda para atirar pedras. Em diferentes momentos históricos, foi o aprimoramento e a junção das duas invenções que permitiu o surgimento da artilharia. A partir delas dá para estabelecer duas linhas evolutivas para contar essa história (veja detalhes no infográfico abaixo). A primeira, que aconteceu no Ocidente, foi a que originou a catapulta propriamente dita. Com significado em grego indicando algo como “jogar contra”, a catapulta foi uma das poucas armas da Antiguidade com local e data de nascimento registrados: a cidade-Estado grega de Siracusa, na ilha da Sicília (atual Itália), por volta de 399 a.C. Mas há um mistério. O artesão que bolou a catapulta permanece desconhecido. Uma das explicações é que, provavelmente, o engenheiro que concebeu a peça era um escravo. E escravos não podiam levar a fama. O motivo da inovação, como sempre, era a mais pura e simples das necessidades: grana. Alguns anos antes, Dionísio 1º, rei que governava Siracusa, havia negociado muito a contragosto o pagamento de terras e dinheiro para evitar que os inimigos cartagineses invadissem a cidade. Por debaixo dos panos, o tirano resolveu tomar de volta o que julgava ser seu. Para isso, transformou seus domínios em um dos maiores centros de tecnologia militar. Graças ao lucro com o comércio de trigo e azeite, em pouco tempo Dionísio conseguiu arrebanhar os melhores artesãos militares do Mediterrâneo. “O rei circulava diariamente entre os inventores, conversava em tom ameno com eles e recompensava os mais esforçados com presentes e convites para banquetes”, relatou o historiador grego Diodorus Siculus, ele próprio um siciliano. Da comilança e dos agradinhos resultaram numerosas máquinas de guerra. A catapulta estava entre elas e fez sua estréia no bem-sucedido cerco à cidade cartaginesa de Motya, que caiu em 398 a.C. Do sucesso veio a multiplicação do espanto. Em sua obra Moralia, o filósofo grego Plutarco descreve o terror do rei espartano Arquidamos 3º (360 a.C.–338 a.C.) quando viu a catapulta demonstrada pela primeira vez. “Ó, Héracles! A bravura em batalha foi destruída!”, teria dito o rei, referindo-se ao fato de que uma arma daquelas poderia acabar com o mais valoroso dos guerreiros, sem que ele tivesse chance de fazer nada. Não era pouca coisa o momento histórico que Arquidamos presenciava: pela primeira vez, o homem podia usar algo que ia muito além da própria força física para guerrear. Quem vencia a guerra, a partir de então, era a máquina, não mais o homem. Os gregos curtiram a brincadeira. Por volta de 330 a.C., ou seja, apenas 70 anos após a invenção da catapulta, o arsenal de Atenas já incluía uma variedade de requintados modelos impulsionados por sistemas de torção que ampliavam o alcance do projétil. Armas como o oxibele nasceram a partir do mesmo mecanismo. Capitalizado pelos romanos, o surto inventivo grego foi copiado e melhorado. Mudanças nos materiais, no design e no próprio uso tornaram a artilharia mais do que uma arma selvagem. O passo definitivo para transformar o uso das catapultas em uma ciência foi o desenvolvimento da balística – a arte por meio da qual os artilheiros conseguiam, graças a cálculos matemáticos, direcionar com razoável precisão os projéteis que saíam de suas máquinas. Catapultas e similares continuaram a ser utilizados até o início da Idade Média. Isso até os europeus tomarem contato com a segunda linha evolutiva das armas de cerco, desenvolvida no Oriente, mais precisamente dentro da tradição chinesa. Utilizando o mesmo princípio da alavanca, os chineses, desde 400 a.C. (a mesma época do desenvolvimento da catapulta na Grécia), faziam uso de uma espécie de gangorra gigante com uma funda na ponta para atirar pedras. O invento, chamado de hseun fang (“furacão”), utilizava a força de cerca de 10 homens, que puxavam um dos braços da alavanca com cordas. Com o tempo, os chineses se ligaram que não era necessário ter pessoas puxando um dos lados da gangorra. Bastava colocar um contrapeso para que o efeito fosse o mesmo. Ao longo dos séculos, o poderoso engenho atravessou a Ásia. No ano de 1169, o estudioso islâmico al-Tarsusi descreveu em um manual militar uma máquina que usava o mecanismo do contrapeso, chamada entre os árabes de manjaniq.
QUERIDINHOS DO REI
Na mesma época, o invento, que ficaria conhecido no Ocidente com o nome de trebuchet, foi construído por forças cristãs que combatiam na Palestina durante a 3a Cruzada (1189-1192). O comandante da expedição, o rei inglês Ricardo Coração de Leão, tinha uma adoração especial por dois enormes trebuchets apelidados por ele de Catapulta de Deus e Vizinho Mau, que abriram enormes brechas na fortaleza da cidade de Acre.
A partir das Cruzadas, o trebuchet cresceu e apareceu por toda a Europa, onde participou de alguns dos momentos mais criativos da Idade Média. Utilizando as enormes máquinas de cerco, os atacantes jogavam animais e cadáveres infectados com peste para dentro das muralhas, uma guerra biológica primitiva. Há também relatos de negociadores sendo enviados vivos – via trebuchet – de volta às cidades sitiadas, numa demonstração de que as negociações haviam falhado. O predomínio do engenho só seria ameaçado com a chegada do canhão. O primeiro surgiu em 1325. Por cerca de 100 anos, eles foram secundários em relação ao trebuchet. Não era fácil carregá-los, e seu grau de imprecisão era alto. Conforme a tecnologia foi se aprimorando, a relação se inverteu. “O marco foi o ano de 1449, data de criação de um canhão gigantesco chamado Mons Meg, que enviava uma bola de 150 quilos a 266 metros de distância. A partir de então, o poder de fogo do canhão e do trebuchet se equiparou”, afirma o especialista em catapultas Michael Farnworth, autor do ensaio Inventive Steps in Trebuchet Evolution (“Passos Inovadores na Evolução do Trebuchet”). Daquele ponto em diante, a importância do trebuchet foi gradualmente diminuindo. Em 1550, gravuras medievais ainda mostravam o engenho operando ao lado de canhões. O último uso documentado é bem posterior, de 1779, durante uma batalha em Gibraltar. Na ocasião, o Exército inglês aproveitou a trajetória de parábola dos projéteis lançados do trebuchet para atingir alvos inacessíveis aos canhões.
A evolução das armas de fogo aposentou as catapultas. Isso não impediu sua última glória. Durante a 1a Guerra Mundial (1914-1918), em meio à batalha de trincheiras, os homens que arriscavam suas vidas atirando granadas rumo às posições inimigas reinventaram a roda. Utilizando molas e madeira, construíram pequenas catapultas, capazes de lançar as granadas sem que fosse preciso se expor ao fogo inimigo. Uma demonstração de que a simplicidade e eficiência das armas de cerco ainda podiam causar o que sempre causaram: terror nos inimigos.
MUNIÇÃO
O alimento preferido de catapultas e trebuchets eram as pedras. Mas a criatividade medieval incluía animais mortos – o mais aerodinâmico era o porco – e cadáveres putrefatos.
TORRE DE ASSALTO
Usada desde os romanos, a torre de assalto era um dos meios mais eficazes de tomar as muralhas. Era uma torre móvel, que colava na muralha inimiga e baixava uma porta levadiça para a saída dos atacantes. Era coberta com couro e molhada para evitar o fogo.
TREBUCHET
Primo turbinado da catapulta, o trebuchet podia chegar a 16 metros de altura, algo como um prédio de 6 andares. Só o braço da arma tinha 12 metros de extensão.
CONTRA ATAQUE
Se os invasores bobeassem, os defensores abriam de surpresa as portas do castelo e faziam um contra-ataque para tentar destruir os trebuchets. Ou então saíam à noite, para tentar quebrar o que pudessem.
PROTEÇÃO
Alvo cobiçado pelos inimigos, um trebuchet exigia vigilância constante. Em defesa aos ataques de cavalaria, era comum os invasores posicionarem troncos afiados, os piques. Uma guarnição ficava perto para evitar sabotagens.
MONTAGEM
Construído em pleno palco de cerco, um trebuchet vinha com grandes toras de madeira desmontadas em carroças. Para colocar a máquina de pé, engenheiros demoravam pelo menos duas semanas.
CRONOLOGIA
ESTICA E EMPURRA
Originadas da funda, estas armas de cerco nasceram na China
FUSTÍBALO (500 a.C.)
Extensão ainda maior do braço humano, utilizando um pau e mantendo uma funda na ponta. Tornou-se uma arma popular no Exército romano.
FUNDA (Paleolítico)
Suspeita-se que esta arma tenha mais de 11 mil anos. O que ela faz é aumentar o tamanho do braço humano, fazendo com que as pedras voem mais longe.
ONAGRO (100 a.C.)
Funciona do mesmo modo que uma catapulta de torção, exceto por um detalhe. Em vez de possuir uma “colher” no final do braço, o onagro tinha uma funda na ponta da arma.
HSEUN FANG (400 a.C.)
Funcionando como uma alavanca, esta arma arremessa pedras por meio de um superbraço de madeira, puxado com cordas por cerca de 10 homens.
TREBUCHET (300 a.C.)
É o sistema de alavanca vitaminado e redesenhado: o ponto de apoio deslocado para a frente do braço aumenta o alcance e o contrapeso evita o uso da força humana.
TOrção (por volta de 400 a.C.)
Usado tanto na China quanto na Europa, o mecanismo de torção multiplica o alcance das armas de cerco. A idéia básica é passar uma corda pelo braço da catapulta (1) e torcê-la (2). Quando o braço é liberado, a corda retorcida o faz mover-se velozmente, lançando a pedra em cima do inimigo (3).
ESTICA E PUXA
Originadas do Arco, estas armas de cerco nasceram na China
ARCO (Paleolítico) Evidências arqueológicas sugerem que o arco já era utilizado 11 mil anos atrás. A estrutura de madeira é flexionada por uma corda que, ao ser solta, transfere a energia.
GASTRAFETE (400 a.C.)
Usando a barriga como ponto de apoio, o arqueiro fica com as mãos livres para puxar mais a corda, aumentando a tensão do arco e fazendo a flecha ganhar força.
OXIBELE (375 a.C.)
Esta arma lança flechas tamanho-família utilizando uma espécie de roda dentada (igual à dos brinquedos movidos à corda) para puxar o arco.
CATAPULTA DE ARCO (400 a.C.)
O princípio do arco ganhou aqui uma nova utilidade: impulsionar um braço de madeira, uma espécie de colher gigantesca que atirava pedras.
BALISTA (100 a.C.)
Filha do oxibele, a balista romana é ainda maior. Para simular a tensão do arco, os romanos fizeram um sistema de torção duplo, com dois feixes de cordas.
CATAPULTA de TORÇÃO (350 a.C.)
Um sistema de torção move o braço desta catapulta. O braço da arma fica enrolado em um feixe de cordas bem torcidas – e cheias de energia.
Fonte
http://super.abril.com.br/historia/mae-todas-guerras-447270.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super
Texto Fabiano Onça
Em 1304, o rei Eduardo 1º da Inglaterra cercou o castelo de Stirling, na Escócia. Lá resistiam os últimos guerreiros que, anos antes, haviam apoiado a rebelião antiinglesa promovida pelo escocês William Wallace. Sem conseguir demolir as sólidas muralhas, Eduardo 1º apelou. Ergueu um engenho conhecido como trebuchet – uma máquina de atirar pedras, parente gigante da catapulta. Por 10 semanas, um batalhão de 50 operários cortou 20 grandes carvalhos para construir o monstro, ali mesmo, no local do cerco. O colosso intimidou de tal modo os defensores que, antes mesmo de ser concluído, fez com eles tentassem se render. Mas Eduardo queria testar o brinquedão. Com pedras de 150 quilos, o rei inglês devastou as muralhas e tomou o castelo, em um cerco como o do infográfico destas páginas. Só aí aceitou a rendição. O terror vivido pelos defensores do castelo de Stirling não era algo novo. O sentimento havia sido experimentado há pelo menos 2 400 anos, com a invenção das pioneiras armas de sítio ou de cerco – categoria que tem na catapulta sua representante mais célebre, mas inclui ainda onagros, oxibeles, trebuchets e outras engenhocas construídas de acordo com a criatividade de inúmeros povos da Antiguidade e da Idade Média. No terreno militar, o impacto dessa novidade literalmente não deixou pedra sobre pedra. Até então, os exércitos eram formados apenas pela infantaria (tropas que avançam a pé) e a cavalaria (tropas que avançavam a cavalo e, hoje, em veículos blindados). A partir das catapultas, eles passaram a contar também com uma terceira arma: a artilharia, especializada no lançamento de projéteis a grande distância. Simplesmente não havia mais cidade – não importava o tamanho do muro – que pudesse resistir a um ataque persistente. E, quanto maior, melhor: engenhos gigantescos como os trebuchets da página anterior fizeram com que o pânico tomasse conta dos defensores como nenhuma outra arma. Afinal, tomar uma pedrada enorme ou ser varado por uma superflecha desmoronava qualquer um.
PAI DESCONHECIDO
Em termos técnicos, as armas de cerco aproveitavam os princípios de funcionamento de duas armas muito antigas, mas também muito eficientes: o arco e a funda, espécie de corda para atirar pedras. Em diferentes momentos históricos, foi o aprimoramento e a junção das duas invenções que permitiu o surgimento da artilharia. A partir delas dá para estabelecer duas linhas evolutivas para contar essa história (veja detalhes no infográfico abaixo). A primeira, que aconteceu no Ocidente, foi a que originou a catapulta propriamente dita. Com significado em grego indicando algo como “jogar contra”, a catapulta foi uma das poucas armas da Antiguidade com local e data de nascimento registrados: a cidade-Estado grega de Siracusa, na ilha da Sicília (atual Itália), por volta de 399 a.C. Mas há um mistério. O artesão que bolou a catapulta permanece desconhecido. Uma das explicações é que, provavelmente, o engenheiro que concebeu a peça era um escravo. E escravos não podiam levar a fama. O motivo da inovação, como sempre, era a mais pura e simples das necessidades: grana. Alguns anos antes, Dionísio 1º, rei que governava Siracusa, havia negociado muito a contragosto o pagamento de terras e dinheiro para evitar que os inimigos cartagineses invadissem a cidade. Por debaixo dos panos, o tirano resolveu tomar de volta o que julgava ser seu. Para isso, transformou seus domínios em um dos maiores centros de tecnologia militar. Graças ao lucro com o comércio de trigo e azeite, em pouco tempo Dionísio conseguiu arrebanhar os melhores artesãos militares do Mediterrâneo. “O rei circulava diariamente entre os inventores, conversava em tom ameno com eles e recompensava os mais esforçados com presentes e convites para banquetes”, relatou o historiador grego Diodorus Siculus, ele próprio um siciliano. Da comilança e dos agradinhos resultaram numerosas máquinas de guerra. A catapulta estava entre elas e fez sua estréia no bem-sucedido cerco à cidade cartaginesa de Motya, que caiu em 398 a.C. Do sucesso veio a multiplicação do espanto. Em sua obra Moralia, o filósofo grego Plutarco descreve o terror do rei espartano Arquidamos 3º (360 a.C.–338 a.C.) quando viu a catapulta demonstrada pela primeira vez. “Ó, Héracles! A bravura em batalha foi destruída!”, teria dito o rei, referindo-se ao fato de que uma arma daquelas poderia acabar com o mais valoroso dos guerreiros, sem que ele tivesse chance de fazer nada. Não era pouca coisa o momento histórico que Arquidamos presenciava: pela primeira vez, o homem podia usar algo que ia muito além da própria força física para guerrear. Quem vencia a guerra, a partir de então, era a máquina, não mais o homem. Os gregos curtiram a brincadeira. Por volta de 330 a.C., ou seja, apenas 70 anos após a invenção da catapulta, o arsenal de Atenas já incluía uma variedade de requintados modelos impulsionados por sistemas de torção que ampliavam o alcance do projétil. Armas como o oxibele nasceram a partir do mesmo mecanismo. Capitalizado pelos romanos, o surto inventivo grego foi copiado e melhorado. Mudanças nos materiais, no design e no próprio uso tornaram a artilharia mais do que uma arma selvagem. O passo definitivo para transformar o uso das catapultas em uma ciência foi o desenvolvimento da balística – a arte por meio da qual os artilheiros conseguiam, graças a cálculos matemáticos, direcionar com razoável precisão os projéteis que saíam de suas máquinas. Catapultas e similares continuaram a ser utilizados até o início da Idade Média. Isso até os europeus tomarem contato com a segunda linha evolutiva das armas de cerco, desenvolvida no Oriente, mais precisamente dentro da tradição chinesa. Utilizando o mesmo princípio da alavanca, os chineses, desde 400 a.C. (a mesma época do desenvolvimento da catapulta na Grécia), faziam uso de uma espécie de gangorra gigante com uma funda na ponta para atirar pedras. O invento, chamado de hseun fang (“furacão”), utilizava a força de cerca de 10 homens, que puxavam um dos braços da alavanca com cordas. Com o tempo, os chineses se ligaram que não era necessário ter pessoas puxando um dos lados da gangorra. Bastava colocar um contrapeso para que o efeito fosse o mesmo. Ao longo dos séculos, o poderoso engenho atravessou a Ásia. No ano de 1169, o estudioso islâmico al-Tarsusi descreveu em um manual militar uma máquina que usava o mecanismo do contrapeso, chamada entre os árabes de manjaniq.
QUERIDINHOS DO REI
Na mesma época, o invento, que ficaria conhecido no Ocidente com o nome de trebuchet, foi construído por forças cristãs que combatiam na Palestina durante a 3a Cruzada (1189-1192). O comandante da expedição, o rei inglês Ricardo Coração de Leão, tinha uma adoração especial por dois enormes trebuchets apelidados por ele de Catapulta de Deus e Vizinho Mau, que abriram enormes brechas na fortaleza da cidade de Acre.
A partir das Cruzadas, o trebuchet cresceu e apareceu por toda a Europa, onde participou de alguns dos momentos mais criativos da Idade Média. Utilizando as enormes máquinas de cerco, os atacantes jogavam animais e cadáveres infectados com peste para dentro das muralhas, uma guerra biológica primitiva. Há também relatos de negociadores sendo enviados vivos – via trebuchet – de volta às cidades sitiadas, numa demonstração de que as negociações haviam falhado. O predomínio do engenho só seria ameaçado com a chegada do canhão. O primeiro surgiu em 1325. Por cerca de 100 anos, eles foram secundários em relação ao trebuchet. Não era fácil carregá-los, e seu grau de imprecisão era alto. Conforme a tecnologia foi se aprimorando, a relação se inverteu. “O marco foi o ano de 1449, data de criação de um canhão gigantesco chamado Mons Meg, que enviava uma bola de 150 quilos a 266 metros de distância. A partir de então, o poder de fogo do canhão e do trebuchet se equiparou”, afirma o especialista em catapultas Michael Farnworth, autor do ensaio Inventive Steps in Trebuchet Evolution (“Passos Inovadores na Evolução do Trebuchet”). Daquele ponto em diante, a importância do trebuchet foi gradualmente diminuindo. Em 1550, gravuras medievais ainda mostravam o engenho operando ao lado de canhões. O último uso documentado é bem posterior, de 1779, durante uma batalha em Gibraltar. Na ocasião, o Exército inglês aproveitou a trajetória de parábola dos projéteis lançados do trebuchet para atingir alvos inacessíveis aos canhões.
A evolução das armas de fogo aposentou as catapultas. Isso não impediu sua última glória. Durante a 1a Guerra Mundial (1914-1918), em meio à batalha de trincheiras, os homens que arriscavam suas vidas atirando granadas rumo às posições inimigas reinventaram a roda. Utilizando molas e madeira, construíram pequenas catapultas, capazes de lançar as granadas sem que fosse preciso se expor ao fogo inimigo. Uma demonstração de que a simplicidade e eficiência das armas de cerco ainda podiam causar o que sempre causaram: terror nos inimigos.
MUNIÇÃO
O alimento preferido de catapultas e trebuchets eram as pedras. Mas a criatividade medieval incluía animais mortos – o mais aerodinâmico era o porco – e cadáveres putrefatos.
TORRE DE ASSALTO
Usada desde os romanos, a torre de assalto era um dos meios mais eficazes de tomar as muralhas. Era uma torre móvel, que colava na muralha inimiga e baixava uma porta levadiça para a saída dos atacantes. Era coberta com couro e molhada para evitar o fogo.
TREBUCHET
Primo turbinado da catapulta, o trebuchet podia chegar a 16 metros de altura, algo como um prédio de 6 andares. Só o braço da arma tinha 12 metros de extensão.
Se os invasores bobeassem, os defensores abriam de surpresa as portas do castelo e faziam um contra-ataque para tentar destruir os trebuchets. Ou então saíam à noite, para tentar quebrar o que pudessem.
PROTEÇÃO
Alvo cobiçado pelos inimigos, um trebuchet exigia vigilância constante. Em defesa aos ataques de cavalaria, era comum os invasores posicionarem troncos afiados, os piques. Uma guarnição ficava perto para evitar sabotagens.
MONTAGEM
Construído em pleno palco de cerco, um trebuchet vinha com grandes toras de madeira desmontadas em carroças. Para colocar a máquina de pé, engenheiros demoravam pelo menos duas semanas.
CRONOLOGIA
ESTICA E EMPURRA
Originadas da funda, estas armas de cerco nasceram na China
FUSTÍBALO (500 a.C.)
Extensão ainda maior do braço humano, utilizando um pau e mantendo uma funda na ponta. Tornou-se uma arma popular no Exército romano.
FUNDA (Paleolítico)
Suspeita-se que esta arma tenha mais de 11 mil anos. O que ela faz é aumentar o tamanho do braço humano, fazendo com que as pedras voem mais longe.
ONAGRO (100 a.C.)
Funciona do mesmo modo que uma catapulta de torção, exceto por um detalhe. Em vez de possuir uma “colher” no final do braço, o onagro tinha uma funda na ponta da arma.
Funcionando como uma alavanca, esta arma arremessa pedras por meio de um superbraço de madeira, puxado com cordas por cerca de 10 homens.
TREBUCHET (300 a.C.)
É o sistema de alavanca vitaminado e redesenhado: o ponto de apoio deslocado para a frente do braço aumenta o alcance e o contrapeso evita o uso da força humana.
TOrção (por volta de 400 a.C.)
Usado tanto na China quanto na Europa, o mecanismo de torção multiplica o alcance das armas de cerco. A idéia básica é passar uma corda pelo braço da catapulta (1) e torcê-la (2). Quando o braço é liberado, a corda retorcida o faz mover-se velozmente, lançando a pedra em cima do inimigo (3).
ESTICA E PUXA
Originadas do Arco, estas armas de cerco nasceram na China
ARCO (Paleolítico) Evidências arqueológicas sugerem que o arco já era utilizado 11 mil anos atrás. A estrutura de madeira é flexionada por uma corda que, ao ser solta, transfere a energia.
GASTRAFETE (400 a.C.)
Usando a barriga como ponto de apoio, o arqueiro fica com as mãos livres para puxar mais a corda, aumentando a tensão do arco e fazendo a flecha ganhar força.
OXIBELE (375 a.C.)
Esta arma lança flechas tamanho-família utilizando uma espécie de roda dentada (igual à dos brinquedos movidos à corda) para puxar o arco.
CATAPULTA DE ARCO (400 a.C.)
O princípio do arco ganhou aqui uma nova utilidade: impulsionar um braço de madeira, uma espécie de colher gigantesca que atirava pedras.
BALISTA (100 a.C.)
Filha do oxibele, a balista romana é ainda maior. Para simular a tensão do arco, os romanos fizeram um sistema de torção duplo, com dois feixes de cordas.
CATAPULTA de TORÇÃO (350 a.C.)
Um sistema de torção move o braço desta catapulta. O braço da arma fica enrolado em um feixe de cordas bem torcidas – e cheias de energia.
Fonte
http://super.abril.com.br/historia/mae-todas-guerras-447270.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super
1 de mar. de 2014
A FESTA GREGA QUE ORIGINOU O CARNAVAL
A partir da adoção do carnaval por parte da Igreja, a festa passou a ser comemorada através de cultos oficiais, o que bania os “atos pecaminosos”. Tal modificação foi fortemente espantosa aos olhos do povo já que fugia das reais origens da festa como o festejo pela alegria e pelas conquistas.
Em 1545, durante o Concílio de Trento, o carnaval voltou a ser uma festa popular. Em aproximadamente 1723, o carnaval chegou ao Brasil sob influência européia. Ocorria através de desfiles de pessoas fantasiadas e mascaradas. Somente no século XIX que os blocos carnavalescos surgiram com carros decorados e pessoas fantasiadas da forma semelhante à de hoje.
A festa foi grandemente adotada pela população brasileira, o que tornou o carnaval uma das maiores comemorações do país. A esta favorável recepção, acrescentou-se as famosas marchinhas carnavalescas que incrementou a festa e a fez crescer em quantidade de participantes e em qualidade.
Gabriela Cabral
Equipe Brasil Escola
Formatação e pesquisa:HRubiales
OUTROS CARNAVAIS
Texto Anna Virginia Balloussier
Sapucaí já era. Países cristãos de todo o mundo têm festas tão criativas, bizarras e engraçadas quanto as do Brasil
*Cordão do cara preta
Depois do Carnaval do Rio, o maior do mundo é o de Barranquilla, na Colômbia, cidade onde o escritor Gabriel García Márquez passou a juventude. Uma das fantasias mais comuns da festa, que reúne 1,5 milhão de pessoas, é pintar o corpo de preto e caprichar no batom, em homenagem às “negras bolonhas”, tradicionais negras do tabuleiro que vendem frutas e doces pelas ruas e praias do norte do país.
* Olha a cabeleira do zezé
Em muitos Carnavais da Europa, o legal é se fantasiar de monstros horríveis. O melhor exemplo é o Carnaval de Mohács, pequena cidade da Hungria próxima ao rio Danúbio. Os homens tomam as ruas com máscaras assustadoras que lembram ovelhas. A origem da fantasia bizarra, dizem, vem do século 16, quando moradores de Mohács, sob domínio turco, expulsaram o exército inimigo vestindo o traje. No final da festa, as pessoas dançam em volta de uma fogueira, no melhor estilo pagão.
*Ô balancê, balancê
Sim, os americanos também têm Carnavais, e dos bons. No Mardi Gras de Nova Orleans, a atração é o famoso costume do flash for beads, exibir os seios em troca de colares feitos de bolinhas plásticas em diferentes cores e tamanhos. Ganha quem enroscar o maior número deles no pescoço. Mesmo depois que o furacão Katrina arrasou a cidade, a farra anual continua.
*Olodum suíço
A festa mais esperada da Suíça é o Carnaval de Lucerna. O Fasnacht começa na madrugada da terça-feira, atravessa a Quarta-Feira de Cinzas e muitas vezes segue até o domingo. São muito comuns os Guggengruppe, grupos que saem pelas ruas fantasiados com cabeças enormes e tocando instrumentos musicais sem melodia. Uma versão esquisita do Olodum.
*Chegou a turma do fuzil
Em Mainz, Alemanha, a atração são os carros alegóricos que misturam humor e política. Neste, de 2007, o tema foi a polêmica entre os presidentes Bush, dos EUA, e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
*Ai que caloôoooor...
Para os russos, o negócio é botar fantasias bem quentes e cair na neve do inverno do hemisfério norte. O maslenitsa foi abafado?em tempos de União Soviética, mas?voltou com o fim do comunismo.
*Fogo!
Na Espanha, a melhor festa é Las Fallas, em Valência. Os festeiros demoram meses fazendo gigantescos bonecos de papel machê, que, no fim da festa, viram um grande incêndio. A anual queima de fogos vem das juntas de artesãos do século 17, que armavam enormes fogueiras para homenagear o padroeiro da cidade. Hoje, a maioria das figuras, que chegam a 20 metros de altura, é de personalidades espanholas.
Fonte:
http://super.abril.com.br/historia/outros-carnavais-447409.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super
Sapucaí já era. Países cristãos de todo o mundo têm festas tão criativas, bizarras e engraçadas quanto as do Brasil
*Cordão do cara preta
Depois do Carnaval do Rio, o maior do mundo é o de Barranquilla, na Colômbia, cidade onde o escritor Gabriel García Márquez passou a juventude. Uma das fantasias mais comuns da festa, que reúne 1,5 milhão de pessoas, é pintar o corpo de preto e caprichar no batom, em homenagem às “negras bolonhas”, tradicionais negras do tabuleiro que vendem frutas e doces pelas ruas e praias do norte do país.
* Olha a cabeleira do zezé
Em muitos Carnavais da Europa, o legal é se fantasiar de monstros horríveis. O melhor exemplo é o Carnaval de Mohács, pequena cidade da Hungria próxima ao rio Danúbio. Os homens tomam as ruas com máscaras assustadoras que lembram ovelhas. A origem da fantasia bizarra, dizem, vem do século 16, quando moradores de Mohács, sob domínio turco, expulsaram o exército inimigo vestindo o traje. No final da festa, as pessoas dançam em volta de uma fogueira, no melhor estilo pagão.
*Ô balancê, balancê
Sim, os americanos também têm Carnavais, e dos bons. No Mardi Gras de Nova Orleans, a atração é o famoso costume do flash for beads, exibir os seios em troca de colares feitos de bolinhas plásticas em diferentes cores e tamanhos. Ganha quem enroscar o maior número deles no pescoço. Mesmo depois que o furacão Katrina arrasou a cidade, a farra anual continua.
*Olodum suíço
A festa mais esperada da Suíça é o Carnaval de Lucerna. O Fasnacht começa na madrugada da terça-feira, atravessa a Quarta-Feira de Cinzas e muitas vezes segue até o domingo. São muito comuns os Guggengruppe, grupos que saem pelas ruas fantasiados com cabeças enormes e tocando instrumentos musicais sem melodia. Uma versão esquisita do Olodum.
*Chegou a turma do fuzil
Em Mainz, Alemanha, a atração são os carros alegóricos que misturam humor e política. Neste, de 2007, o tema foi a polêmica entre os presidentes Bush, dos EUA, e o iraniano Mahmoud Ahmadinejad.
*Ai que caloôoooor...
Para os russos, o negócio é botar fantasias bem quentes e cair na neve do inverno do hemisfério norte. O maslenitsa foi abafado?em tempos de União Soviética, mas?voltou com o fim do comunismo.
*Fogo!
Na Espanha, a melhor festa é Las Fallas, em Valência. Os festeiros demoram meses fazendo gigantescos bonecos de papel machê, que, no fim da festa, viram um grande incêndio. A anual queima de fogos vem das juntas de artesãos do século 17, que armavam enormes fogueiras para homenagear o padroeiro da cidade. Hoje, a maioria das figuras, que chegam a 20 metros de altura, é de personalidades espanholas.
Fonte:
http://super.abril.com.br/historia/outros-carnavais-447409.shtml?utm_source=redesabril_jovem&utm_medium=facebook&utm_campaign=redesabril_super
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