8 de abr. de 2015

Por que é bom sentir tédio

David Robson
Da BBC Future


 Já conheci muita gente com talento para nos entediar, mas Sandi Mann é uma das poucas pessoas que fizeram disso uma arte. No laboratório da pesquisadora na Universidade de Central Lancashire, na Grã-Bretanha, voluntários bem dispostos têm de cumprir tarefas nada animadoras, como, por exemplo, copiar uma extensa lista de números de telefone. Mann conta que eles participam da atividade educadamente, mas os traseiros inquietos e os bocejos frequentes provam que os voluntários não estão tendo prazer nenhum com a experiência. O sofrimento deles é uma conquista para a Ciência, já que Mann pretende estudar o efeito profundo que o tédio pode ter em nossas vidas. Até agora, ela é uma das poucas psicólogas a se aventurar nesses territórios de torpor da mente. "É o Patinho Feio da psicologia", define ela. Afinal, admitir que você estuda o tédio pode parecer um pouco... entediante. Mas isso está longe de ser verdade.

VÍCIOS E TÉDIOS
O tédio é uma parte tão grande da existência diária que nos surpreendemos ao notar que os cientistas demoraram em explorá-lo melhor. "Quando você está mergulhado em alguma coisa, não consegue achar que aquilo é digno de nota", comenta John Eastwood, da York University, no Canadá, e um dos primeiros acadêmicos a se interessar pelo assunto. Outra percepção comum – e enganosa – é a de que "só as pessoas chatas ficam entediadas". Mas ao explorar os motivos do tédio, Eastwood descobriu que há dois tipos de personalidade que tendem a se aborrecer mais, e nenhuma delas é particularmente enfadonha. O tédio normalmente ocorre com um estado mental naturalmente impulsivo entre as pessoas que estão constantemente procurando novas experiências. Para elas, um caminho estável na vida não é suficientemente emocionante. "É como se o mundo fosse cronicamente pouco estimulante", define Eastwood. O segundo tipo de pessoas entediadas tem exatamente o problema oposto: o mundo é um lugar perigoso, então elas se fecham e tentam não sair de sua zona de conforto. Enquanto essa retração pode oferecer um pouco de consolo, essas pessoas nem sempre estão satisfeitas com a segurança oferecida – e o resultado é um tédio crônico. Está claro que qualquer um desses estados podem levar as pessoas a se machucarem. Uma tendência ao tédio está ligada à tendência a fumar, a beber demais e a abusar das drogas. Isso sem falar em comportamentos mais mundanos, mas igualmente prejudiciais, como comer compulsivamente para combater o tédio. "O tédio no trabalho está ajudando a sustentar a indústria de balas e chocolates", afirma Mann. O efeito geral do tédio na expectativa de vida humana pode também ser drástico. Pesquisadores de um famoso estudo que acompanhou as vidas de funcionários públicos de meia-idade na Grã-Bretanha descobriram que aqueles que tinham mais tendência a se entediar tinham 30% mais chances de morrer nos três anos seguintes.

PERIGOSO MAS ÚTIL
 Isso é um mistério para psicólogos evolucionistas. As emoções deveriam evoluir para o nosso bem, não para nos empurrar para a autodestruição. "O próprio fato de o tédio ser uma experiência diária sugere que ele tem alguma utilidade", diz Heather Lench, da Texas A&M University. Sentimentos como o medo nos ajudam a evitar o perigo, enquanto a tristeza pode ajudar a evitar futuros erros. Mas qual é a finalidade do tédio? Analisando as provas existentes até hoje, Lench suspeita que o tédio esteja por trás de um de nossos traços mais importantes: a curiosidade. Segundo ela, o sentimento nos impede de trilhar sempre os mesmos caminhos e nos compele a tentar procurar outros objetivos de vida e a explorar novos territórios e novas ideias. Foi o que Mann descobriu com os voluntários que copiavam as listas de telefone: sua sensação de aborrecimento melhorava o desempenho deles em testes de criatividade. Para a psicóloga, o tédio permitiu que as mentes dos voluntários divagassem, o que leva a maneiras mais associativas e criativas de pensar. "Se não encontramos estímulos externos, procuramos internamente, visitando diferentes lugares de nossas mentes", explica. Sem a capacidade de se entediar, o homem talvez nunca tivesse feito conquistas artísticas e tecnológicas.

 ACEITANDO O TÉDIO
Por causa disso, Mann acredita que não devemos ter medo do tédio, mas sim aceitá-lo e aproveitá-lo. Eastwood é menos animado em relação aos benefícios do tédio, mas reconhece que devemos ter cuidado ao procurar por um escape rápido. "Temos que escutar nossas emoções e nos perguntar o que elas estão querendo nos dizer". Para ele, procurar a distração fácil dos smartphones e dos tablets pode ser contraprodutivo. "Somos estimulados demais e esperamos o tempo todo encontrar maneiras mais rápidas e mais fáceis de reavivar nossa curiosidade. Mas isso na verdade deixa as pessoas ainda mais entediadas", afirma. Ele sugere que se reflita se há questões mais graves e profundas fazendo com que nos sintamos desinteressados. O trabalho do pesquisador mostrou que incentivar as pessoas a perceber que suas vidas têm um propósito as torna menos entediadas. "Sentir que você tem um impacto no mundo e que as coisas da vida fazem sentido são elementos inerentemente importantes para o ser humano, assim como o sol, o ar puro e os alimentos"

Fonte:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/01/150118_vert_fut_beneficio_tedio_ml.shtml

De onde vem a a maldade?

 David Robson
 Da BBC Future


 Se você tivesse a chance de colocar um punhado de insetos inofensivos dentro de uma máquina trituradora, iria gostar da experiência? E que tal assustar um desconhecido com um barulho alto e insuportável? Esses são alguns dos testes realizados pelo psicólogo Delroy Paulhus na tentativa de entender as personalidades "nefastas" que andam por aí. Ele basicamente quer responder a uma pergunta que muitos de nós já fizemos: por que algumas pessoas têm prazer em serem cruéis? Não aquelas classificadas como psicopatas ou condenadas por crimes violentos, mas especificamente os bullies das escolas, os trolls da internet e até membros da sociedade tidos como respeitáveis, como políticos e policiais. Segundo Paulhus, é muito fácil tirar conclusões rápidas e simplistas sobre esse tipo de indivíduo. "Temos uma tendência a querer simplificar o mundo dividindo as pessoas entre as boas e as más", afirma o psicólogo, professor da Universidade da Columbia Britânica, no Canadá. Mas, segundo ele, existe uma "taxonomia" para os diferentes tipos de maldade encontradas no dia-a-dia.

TRÍADE DO MAL
O interesse de Paulhus começou com os narcisistas – indivíduos incrivelmente egoístas e vaidosos que atacam os outros para defender sua própria autoestima. Há pouco mais de uma década, um aluno seu, Kevin Williams, sugeriu que explorassem a possibilidade de essas tendências ao egocentrismo estarem ligadas a duas outras características desagradáveis: o maquiavelismo (uma manipulação fria) e a psicopatia (uma insensibilidade aguda e indiferença ao sentimento dos outros). Juntos, os dois cientistas descobriram que os três traços eram bastante independentes, apesar de às vezes coincidirem, formando uma "Tríade do Mal". A honestidade dos voluntários nos testes de Paulhus o surpreendeu. Ele percebeu que os participantes que concordavam com frases como "Gosto de provocar pessoas mais vulneráveis" ou "Não é uma boa ideia me contarem segredos" geralmente se abriam sem pudor e tinham passado por alguma experiência de bullying, na adolescência ou na vida adulta. Essas pessoas também apresentaram uma tendência maior a serem infiéis a seus parceiros e a trapacear em exames. Paulhus notou ainda que essas características não apareciam em um primeiro contato frente a frente com o voluntário. "Essas pessoas estão lidando com a sociedade cotidianamente, por isso têm autocontrole suficiente para não se meterem em confusão. Mas uma coisa ou outra em seu comportamento acaba chamando a atenção", afirma o psicólogo.

 MALVADO POR NATUREZA
Quando Paulhus começou a examinar a fundo essas mentes macabras, outras perguntas foram surgindo. Por exemplo, será que as pessoas nascem malvadas? Estudos que comparam gêmeos idênticos e não-idênticos sugerem que existe um componente genético relativamente grande para o narcisismo e a psicopatia, enquanto o maquiavelismo parece ser mais influenciado pelo ambiente. Mas o fato de herdarmos alguns desses traços não nos isenta de responsabilidades. "Não acredito que uma pessoa nasça com genes de psicopata e que nada possa ser feito para que isso não se desenvolva", afirma Minna Lyons, da Universidade de Liverpool, na Grã-Bretanha. Basta olhar para os anti-heróis da cultura pop – James Bond, Don Draper (do seriado Mad Man) e Jordan Belfort (o protagonista de O Lobo de Wall Street) – para perceber que personalidades sinistras são bastante sedutoras, uma descoberta sustentada por outros estudos científicos. Lyons e sua equipe descobriram ainda que indivíduos notívagos tendem a apresentar mais características ligadas à maldade. Eles se arriscam mais, são mais manipulativos e tendem a explorar outras pessoas. Isso pode fazer sentido se pensarmos na evolução humana: talvez as pessoas com uma personalidade hermética tinham mais chances de roubar e ter relações ilícitas enquanto os demais dormiam, então acabaram evoluindo para serem criaturas da noite.

CANTOS OBSCUROS
Cantos obscuros Recentemente, Paulhus começou a examinar mais profundamente as partes mais sombrias da psique humana. "Preparamos questionários com perguntas mais extremas e descobrimos que alguns voluntários facilmente admitiam já ter causado dor em outras pessoas apenas por prazer", conta. Para ele, essa tendência não é apenas um mero reflexo do narcisismo, da psicopatia ou do maquiavelismo, mas sim uma subespécie de maldade, à qual deu o nome de "sadismo cotidiano". O "triturador de insetos" propiciou a Paulhus e seus colegas entender se aquilo se tratava de um comportamento verdadeiro. Sem que os participantes soubessem, a máquina foi adaptada para dar aos insetos uma saída, mas ainda assim produzia sons arrepiantes que imitavam o ruído dos animais sendo esmagados. Algumas pessoas eram tão sensíveis que se recusavam a participar da experiência, enquanto outras demonstraram ter prazer na tarefa. "Esses indivíduos foram os que marcaram mais pontos no meu questionário sobre sadismo cotidiano", afirma Paulhus.

CAÇA AOS TROLLS
Caça aos trolls Paulhus acredita que esse comportamento é semelhante ao dos chamados trolls da internet. "Eles são a versão online do sadista cotidiano porque passam um bom tempo procurando pessoas para atacar". Um pesquisa anônima com indivíduos que deixam comentários com teor de trolagem na rede concluiu que eles são os que marcam mais pontos nos testes de personalidade cruel e têm o prazer como sua principal motivação. Os estudos de Paulhus chamaram a atenção da polícia e de agências militares, que querem trabalhar com ele para investigar por que algumas pessoas abusam de suas posições. "A preocupação dessas forças é que alguns indivíduos escolham empregos junto a elas por acreditarem que terão um mandado para infligir dor em outros", explica o psicólogo. Se for assim, poderiam ser criados testes que filtrariam e eliminariam candidatos com uma personalidade mais sombria. Paulhus também está animado com os resultados de novas pesquisas sobre "maquiavelismo moral" ou "narcisismo comunitário" – pessoas com algumas características macabras mas que as usam para algo positivo. Ele lembra que pessoas com essa personalidade em geral têm mais iniciativa e autoconfiança para realizar o que desejam. "Até Madre Teresa de Calcutá tinha um lado mais frio", diz o psicólogo. "Afinal, você não vai ajudar o mundo ficando bonzinho em casa."

O surpreendente lado ruim de ser bonito

 David Robson
 Da BBC Future



É praticamente impossível para a maioria de nós imaginar que ser bonito demais pode ser algo negativo, a ponto de prejudicar vários aspectos da vida de alguém. Mas para uma dupla de psicólogas da Universidade da Carolina do Norte em Charlotte, nos Estados Unidos, que analisaram centenas de estudos sobre o assunto realizados nas últimas décadas, a beleza traz suas maldições. Diante das evidências coletadas, Lisa Slattery Walker e Tonya Frevert perceberam que, de maneira superficial, a beleza é algo que carrega uma espécie de aura. "Quando vemos alguém com um atributo positivo, nosso subconsciente, por associação, acredita que aquela pessoa também tem outras qualidades", explica Walker. "Isso é uma característica que identificamos nas primeiras interações de um bebê com o mundo". Para a Psicologia, essa associação intuitiva explicaria o fenômeno coletivo da premissa de que "tudo o que é bonito é bom". Walker e Frevert descobriram uma grande quantidade de estudos que mostraram que alunos mais bonitos em escolas e universidades tendem a ser julgados por professores como os mais competentes e inteligentes – e isso se reflete em suas notas. Além disso, a influência dessa premissa tende a aumentar com o passar dos anos. "Ocorre um efeito cumulativo: ao ser bem tratado, você se torna mais autoconfiante e tem pensamentos mais positivos e mais oportunidades para demonstrar sua competência", afirma Frevert.

EFEITO PENETRANTE
 No ambiente de trabalho, seu rosto pode realmente selar o seu destino. Considerando-se todas as variáveis, foi descoberto que as pessoas mais atraentes tendem a ganhar melhor e a subir mais rápido na carreira do que aqueles considerados fisicamente pouco interessantes. Um estudo feito com alunos de um curso de MBA dos Estados Unidos mostrou que a diferença entre os salários dos mais bonitos e dos menos atraentes do grupo variava de 10% a 15% - o que significa um acúmulo (ou perda) de até US$ 230 mil ao longo da vida laboral. "As vantagens de uma pessoa bonita começam na escola e a acompanham durante toda a carreira", conclui Walker. Até nos tribunais, a beleza parece exercer seu fascínio. Réus mais bonitos têm mais chances de obter penas mais leves ou até serem absolvidos. Da mesma forma, se aquele indivíduo que entrou com o processo for mais atraente, é para ele que a balança da Justiça tende a pender, fazendo com que ganhe seu caso e consiga indenizações maiores. "É um efeito penetrante", define Walker.

PREJUDICIAL À SAÚDE

Apesar de a beleza ser algo favorável na maioria das circunstâncias, há situações em que ela ainda atrapalha. Enquanto homens bonitos podem ser considerados bons líderes, certos preconceitos de gênero costumam atrapalhar as mulheres atraentes, diminuindo suas chances de serem contratadas para cargos mais elevados, que requerem autoridade. E, como é de se esperar, os bonitões também são vítimas de inveja. Um estudo revelou que se você é entrevistado para um emprego por alguém do mesmo sexo, corre mais risco de não ser considerado para a vaga se o recrutador achar que você é mais bonito do que ele. Mais preocupante ainda é o fato de a beleza poder prejudicar a saúde: as doenças são encaradas com menos seriedade quando afetam os bonitões. Ao tratarem de pacientes com dores, por exemplo, os médicos tendem a descuidar das pessoas mais bonitas. A "bolha" criada em volta da beleza também pode criar um certo isolamento. Uma pesquisa americana mostrou que as pessoas tendem a se afastar quando cruzam com uma mulher bonita na rua – talvez em um gesto de respeito, mas tornando a interação mais distante. "O fato de uma pessoa ser atraente pode transmitir uma noção de que ela tem mais poder sobre o espaço à sua volta, mas isso pode fazer com que os outros sintam que não podem se aproximar dela", afirma Frevert. Um exemplo interessante disso foi a recente informação, divulgada pelo site de encontros britânico OKCupid, de que pessoas que aparecem lindas em seus perfis conseguem menos pretendentes do que aquelas cujas fotos apresentam algumas imperfeições, e, portanto, são menos intimidadoras.

ATALHO POUCO CONFIÁVEL

Por isso, como você pode imaginar, ser bonito ajuda, mas não é um passaporte carimbado para a felicidade. Frevert e Walker, no entanto, enfatizam que as influências da beleza são superficiais e não estão arraigadas em nossa biologia, como alguns cientistas já sugeriram. "Temos um conjunto completo de padrões culturais sobre a beleza que nos permite dizer se alguém é ou não atraente – e através dos mesmo padrões, começamos a associá-la com competência", diz Walker. De certo modo, trata-se de um atalho cognitivo para uma rápida avaliação. "Assim como muitos dos outros atalhos que usamos, esse também não é muito confiável", rebate Frevert. E é relativamente fácil diminuir o impacto da beleza – por exemplo, se um departamento de recursos humanos recolher mais detalhes sobre a experiência do candidato antes de fazer uma entrevista, sem se deixar influenciar tanto por sua aparência. Infelizmente, Frevert ressalta que concentrar-se demais na aparência também pode ser prejudicial se isso criar estresse e ansiedade – mesmo entre aqueles que já são abençoados com esse atributo. "Se você ficar obcecado com a beleza, isso pode alterar suas experiências e relações", afirma ela.
Fonte:
http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/03/150203_vert_fut_beleza_prejuizos_ml?ocid=socialflow_facebook

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