Por Guilherme Bryan
Nem estreou e o videoclipe “Judas”, da cantora Lady Gaga, dirigido por Laurieann Gibson, já incomoda a igreja católica e reacendeu a velha polêmica entre videoclipes e religião. No vídeo, a cantora interpreta Maria Madalena ao lado do ator Norman Reedus que faz Judas.“Existem as pessoas com talento e depois existe Lady Gaga. Acho ela cada vez mais irrelevante. É esta a única forma de se destacar? Isto não está sendo feito por acaso: estamos nos aproximando da Semana Santa e da Páscoa”, declarou Bill Donahue, presidente da Liga Católica para Direitos Civis e Religiosos à agência Reuters.
Lady Gaga já havia irritado os católicos com a produção “Alejandro”, dirigido por Steven Klein em 2010. Em oito minutos e quarenta e quatro segundos, essa superprodução mostra a artista vestida como viúva negra e freira, carregando um coração e uma metralhadora, e engolindo um crucifixo, numa espécie de conto de fadas pós-moderno, com várias coreografias, insinuações de sadomasoquismo e, para variar, muitas referências a Madonna. Na época, o videoclipe desagradou até a cantora Katy Perry, que escreveu no Twitter: “Usar a blasfêmia como entretenimento é tão baixo como um comediante que só solta gases”.
Ao ser lançado em 1991, o videoclipe “Losing My Religion”, dirigido por Tarsem Singh para o REM, também incomodou alguns religiosos e deixou de ser exibido na Irlanda, por trazer forte conotação religiosa com imagens de atores fantasiados de anjos para ilustrar a letra que declara: “That’s me in the corner / That’s me in the spot light / Losing my religion” (“Aquele sou eu no canto / Aquele sou eu sob os holofotes / Perdendo minha religião”). “Losing my religion” é uma expressão do norte dos Estados Unidos, que significa perder as esperanças.
Porém, é inevitável o requinte que tornou “Losing My Religion”, um dos videoclipes mais incríveis de todos os tempos, ganhando seis prêmios do MTV Video Music Awards: de Melhor Videoclipe do ano, de Melhor Banda, de Melhor Direção, de Direção de Arte e Edição. No vídeo há referências às obras religiosas produzidas por artistas renascentistas italianos como Leonardo da Vinci e aos filmes de Andrei Tarkovsky e Michelangelo Antonioni, assim como às telas do pintor lombardo Caravaggio e ao conto “Un Señor Muy Viejo Con Unas Alas Enormes”, de Gabriel García Márquez. Assista ao vídeo de “Losing My Religion”.
Para “Losing My Religion”, o vocalista do REM, Michael Stipe, desejava realizar algo no mesmo tom de “Nothing Compares 2U”, dirigido por John Maybury em 1989, para a cantora irlandesa Sinéad O’Connor. A cantora também desagradou a Igreja Católica, em 1992, ao rasgar uma foto do papa João Paulo II ao vivo, diante das câmeras do programa de televisão “Saturday Night Live”, exibido pela emissora norte-americana NBC, por não concordar com o fato de ele ter se calado por tempo demais a respeito da violência sexual contra crianças.
A consequência foi que esse que é um dos mais belos videoclipes de todos os tempos, formado por closes aproximados no rosto da cantora interpretando a música e chorando, intercalados com imagens das esculturas e da artista caminhando pelo Parc de Saint-Cloud, em Paris, na França, também deixou de ser exibido em vários países.
Nenhum videoclipe incomodou mais os religiosos do que “Like a Prayer”, dirigido por Mary Lambert para Madonna. Assim que ele estreou, em 1989, rapidamente rendeu inúmeras críticas por parte da comunidade cristã ao redor do planeta, o que fez com que a cantora perdesse um contrato milionário para o anúncio da Pepsi. A polêmica começava logo numa das primeiras imagens que mostrava uma cruz pegando fogo. A partir daí, o videoclipe mostrava Madonna assistindo a um assassinato e sendo acusada injustamente pelo crime. Após ser libertada, a cantora vai à igreja pedir a salvação e reza para Saint Martin de Porres, que foi canonizado pelo Papa João XXIII e é muitas vezes erroneamente visto como um Deus negro. No final, fica claro tratar-se de um espetáculo teatral. Mesmo assim, as imagens eram fortes demais para não chocar.
O cantor norte-americano Marilyn Manson também irritou católicos e judeus ao criar o personagem Antichrist Superstar, que deu título ao seu segundo álbum e ganhou um videoclipe co-dirigido por ele com E. Elias Merhige. Com o subtítulo “From Dead To The World” e filmada em 1997, no San Francisco Film Festival, nos Estados Unidos, a produção intercala imagens ao vivo em que o artista parece assumir uma espécie de ditador do rock, com direito a um símbolo parecido com a suástica impresso em cartazes. Ele também arranca várias páginas de um livro, que parece simbolizar a “Bíblia”. Havia ali razões suficientes para revoltar diferentes comunidades religiosas.
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