Pensa bem: se uma música triste nos deixa, bem, tristes, por que ela faz sucesso? Não faria mais sentido que a gente evitasse ouvir o que nos faz sentir mal? A questão é essa: elas também nos fazem sentir bem. O neurocientista Robert Zatorre, da Universidade de McGill (Canadá), constatou que músicas emocionalmente intensas, tipo aquela que faz você lembrar do pé na bunda que levou, liberam dopamina, o neurotransmissor que promove a sensação de prazer, no cérebro. O efeito é parecido com a satisfação que comida, sexo e drogas garantem. Observando as reações de voluntários, ele viu que, quanto mais arrepios o povo sentia enquanto ouvia canções cheias de emoção, mais dopamina era liberada. Ou seja: ouvir músicas tristes, mesmo que nos entristeça, ao mesmo tempo nos faz sentir bem, e nos motiva a apertar novamente o gatilho que causou a sensação. No caso, ouvir o chororô musical de novo e de novo. E assim elas disparam para o topo das paradas. Outro segredinho dessa nossa fascinação pelas canções deprês é, segundo o psicólogo britânico John Sloboda, um elemento musical característico chamado de apogiatura — um tipo de nota musical que cria um som dissonante e gera tensão no ouvinte. Quando a apogiatura passa e as notas voltam à melodia familiar, a sensação é boa, e é nesses momentos que a gente desaba e cede à emoção. Quanto mais apogiaturas uma música tem, maior é o ciclo de tensão e alívio que ela cria, e a emoção ao ouví-la é ainda mais forte.
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