3 de ago. de 2010

Se propina é suborno, suborno é o quê?



Já que falamos outro dia do processo de corrupção que se abateu sobre a palavra propina, acabando com sua inocência semântica original, vale a pena dar uma olhada na palavra que leva em todos os dicionários o sentido que o português brasileiro, à revelia dos lexicógrafos sonolentos, decidiu dar ao termo: suborno.
A curiosa história do verbo subornar revela um parentesco que pouca gente imagina com o verbo ornar – ele mesmo, sinônimo de enfeitar, adornar, ornamentar. Ambos vêm do latim ornare, que, segundo o clássico dicionário latino-português de Saraiva, quer dizer “ornar, vestir, aprestar, armar, prover”.
E por que o sub antes de ornare? Bem, uma das muitas funções do prefixo latino sub, segundo o Houaiss, é indicar “ação furtiva, oculta” – e um dos exemplos que o melhor dicionário da língua portuguesa cita, ao lado do adjetivo sub-reptício, é exatamente o verbo subornar.
Isso quer dizer que, na origem, subornar o guarda era dar a ele uma pulseira de ouro? Mais ou menos isso. A palavra suborno carrega bem à vista a ideia de um presente furtivo, um agrado que se faz a alguém, com intenção inconfessável, quando ninguém mais está olhando.

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