Casados carentes
Por que eles agem como se fossem solteiros?
Acho que toda mulher adulta conhece um deles: simpático, sedutor, carente e ... casado. Alguns são muito jovens, a maioria nem tanto. Todos têm em comum o olhar faminto, a mal disfarçada insatisfação com a vida conjugal e uma postura ambígua que pode ser resumida da seguinte maneira: eu não vou avançar o sinal, mas, se você sugerir, vou adorar.
São os casados carentes.
Entre eles, os homens são maioria, mas já conheci várias mulheres. Por alguma razão, o casamento não traz serenidade para essas pessoas. Produz angústia, inquietação, aprisionamento.
É um paradoxo. Ao casar, o sujeito deveria ficar feliz por ter encontrado alguém. Mas não. Ele sofre com a impossibilidade de ter todo o resto. Por isso os casados carentes se debatem contra os limites que inventaram para si mesmos. Por isso se insinuam para as pessoas ao redor deles, com maior ou menor sucesso. Por isso, violam, todos os dias, a única regra inviolável do casamento: não expor o seu parceiro ao ridículo.
Por que as pessoas fazem isso? Por algumas razões, eu imagino.
A primeira, óbvia, é que nem todo mundo é feliz no casamento. Nem todo mundo sabe o que está fazendo quando se casa – por ser jovem, por estar perdido, por querer deixar a casa dos pais, por estar grávida e assustada, ou por ter engravidado alguém e estar assustado. Há inúmeras razões para um mau casamento, mas quase todas desembocam no mesmo tipo de atitude: aqueles que se casam errado convivem de forma contrariada com a instituição.
Uma segunda razão, mais profunda, é que nem todos são capazes de ser feliz no casamento, por mais bacana que este seja. Essas pessoas logo descobrem que não vivem bem na companhia do outro. Percebem que a vida comum cai neles como uma roupa apertada. Ao notar isso, deveriam ser capazes de conversar e ir embora. Mas não. Eles ficam, e aí começam as indignidades.
Se existe uma regra sobre os casados carentes é que eles foram, antes, solteiros carentes.
Pessoas assim imaginam que casar resolverá a ansiedade, acabará com a angústia, trará paz. Obviamente não acontece assim. Os seres humanos levam para as suas relações aquilo de que são feitos. Assim, em pouco tempo de casado, fica evidente que a outra pessoa não vai preencher a vida de quem tem um buraco na alma. Os carentes precisam de uma multidão.
Muitas vezes isso é uma coisa temporária. Gente jovem, por exemplo, tem licença para experimentar sentimentos e testar relações com menor grau de compromisso. Há também os momentos de crise, quando jovens e adultos, homens e mulheres, se comportam como idiotas, porque estão com a cabeça em péssimo estado. Os recém-separados costumam ser assim, carentes e egoístas.
E já que estamos fazendo uma listinha de exceções, elas devem incluir aqueles que atravessam os estertores (que podem ser demorados) de um casamento falido. Esse é um momento ruim, no qual as pessoas estão confusas, doloridas e muito carentes, propensas, portanto, a agir sem consideração pelo parceiro ou pelos parceiros dos outros.
Quando se põe de lado as explicações, porém, os casados carentes são apenas chatos.
Se a gente não os leva a sérios, percebe que são bobos, hesitantes, coquetes no caso das mulheres. Se você resolve envolver-se com eles, descobre que embarcou num turbilhão. Já tive as duas experiências abundantemente: ser o carente e gostar do carente. Nenhuma delas é boa. As duas são vexatórias. Ainda não inventaram nada que substitua um ser humano que sabe o que deseja e escolheu você. Os carentes, casados ou não, vivem em dúvida. Escolhem todo mundo e vivem apenas para eles mesmos.
IVAN MARTINS
É editor-executivo de ÉPOCA
Nenhum comentário:
Postar um comentário