Foto: Fernanda Calgaro/G1Calouros são vítimas de 'círculo vicioso de violência simbólica e real'.
Mesmo formas mais brandas da 'brincadeira' podem ser prejudiciais.
O caso do estudante universitário chicoteado e levado ao coma alcoólico em uma universidade da cidade de Leme (SP) demonstra que o trote é uma espécie de “ritual sadomasoquista”, afirmam especialistas em educação.
“É um círculo vicioso de violência simbólica e de violência real, causada por uma soberba intelectual aliada a práticas sadomasoquistas”, afirma Antonio Zuin, professor da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar). E, embora as práticas de trote solidário sejam melhores que as brincadeiras violentas, elas também são uma espécie de pressão contra os calouros.
“Os veteranos que praticaram a agressão a esse rapaz essa universidade de Leme tiraram fotos com celular e postaram na internet. Isso demonstra um desejo claro de expôr a violência, de mostrar as práticas do grupo”, analisa Zuin, autor do livro “O trote na universidade: passagens de um rito de iniciação” (Editora Cortez).
O professor de filosofia da Univesidade Estadual Paulista (Unesp) Sinésio Ferraz, que também estudou o trote, concorda. “O trote é uma forma de regressão à barbárie”, diz Ferraz. “É uma anulação da individualidade. A pessoa que pratica o trote abre mão de suas responsabilidades individuais e passa a funcionar, inconscientemente, em função de um grupo”, explica.
A prática do trote violento é antiga. A primeira vítima fatal no Brasil é de 1831 e morreu na Universidade de Olinda, em Pernambuco, segundo Antonio Zuin. O primeiro registro na história é de 1342, na Universidade de Paris. "Desde que há universidade, há trote", afirma o professor.
Em 1491, surgem os relatos de violência, na Universidade de Heidelberg, na Alemanha. Ali, calouros eram considerados animais que precisavam ser “civilizados” pelos veteranos. Seus pelos eram raspados e eles eram forçados a se alimentar de comida com fezes e a beber vinho com urina.
Marília Juste
Do G1, em São Paulo

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