23 de nov. de 2009

O HOLOCAUSTO DE AHMADINEJAD


Alvo de repúdio internacional, as declarações sobre o Holocausto do presidente Mamoud Ahmadinejad, do Irã, já levaram o governo brasileiro a produzir uma coleção de notas de protesto. Em Nova York, durante um encontro com o próprio Ahmadinejad, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva chegou a questioná-lo diretamente.
–O senhor acredita mesmo que não houve o Holocausto?, perguntou Lula.
O presidente iraniano argumentou:
– Não. Eu acho que os judeus não pagaram o maior preço da guerra. Os
russos sofreram muito mas os judeus se colocam como as grandes vítimas.
Relatada ao blogue por um assessor do presidente, esta resposta de Ahmadinejad está longe de ser satisfatória. É aquele tipo de argumento que só estimula a crítica.
Com esta postura, ele parece reduzir o debate sobre genocídio e crimes de guerra a um campeonato de brutalidades.
É verdade que os comandos nazistas invadiram a Europa Oriental, durante a
Segunda Guerra, com ordem de matar todas lideranças civis e militares que encontrassem no meio do caminho — judeus e não judeus, comunistas, que os nazistas chamavam de bolchevistas, social-democratas, cristãos, e assim por diante. A orientação era fuzilar sem fazer perguntas. Os comandos entravam nas cidades invadidas de metralhadora em punho e promoviam execuções em massa.
Não há registro escrito da maioria das ordens criminosas definidas pela
hierarquia nazista. O massacre da Europa do Leste foi uma das raríssimas ordens criminosas que Adolf Hitler assinou de próprio punho. A brutalidade era tamanha que determinados oficiais do Exército alemão se recusaram a cumprí-la. Mesmo assim, o morticínio fez perto de 20 milhões de vítimas.
Ao dizer que “os judeus não pagaram o maior preço da guerra” Mahmoud
Ahmadinejad sugere que o holocausto judeu, que fez 6 milhões de vidas humanas, seria menos importante.
Logo, não deveria ser lembrado como um dos piores momentos da história da humanidade nem deveria provocar tamanha indignação.
É puro absurdo, incompatível com uma visão de igualdade entre os homens e
mulheres de todo mundo, sem distinção de religião, cultura ou origem. Ao transformar uma vida humana em número, o que se faz é banalizá-la, reduzí-la à barganha e a propaganda política.

Felizmente existem homens e mulheres com coragem e empenho para honrar a memória das vítimas dos crimes do nazismo — primeiro passo para que não se repitam.
O debate não envolve o passado, mas as questões do presente. Envolve a recusa de Israel em cumprir determinações da ONU de desocupar territórios ocupados em 1967 — ou seja, há 42 anos — e também a política de expansão territorial, que permitiu que controle, hoje, mais de 80% da antiga Palestina, quando os tratados originais lhe reservavam perto de 50%. Outro elemento de tensão são os assentamentos em territórios palestinos, que não páram de se multiplicar, apesar da condenação internacional.

A questão é que, com sua política notória de apoio a organizações terroristas, Mahmoud Ahmadinejad só contribui para elevar a violência na região, agindo como parte do problema — e não da solução.

Essa é a discussão a ser feita.
(As opiniões do presidente do Irã sobre o Holocausto costumam variar conforme o lugar e o interlocutor. Em sua entrevista a William Waack, na Globonews, ele disse que não questionava o Holocausto em si, mas a fundação do Estado de Israel. Seu argumento foi: se o Holocausto ocorreu na Europa, por que era preciso fundar o Estado de Israel na Palestina, terra dos povos árabes?)
POR PAULO MOREIRA LEITE |

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