Masturbação também é assunto de menina
Por Por Mariana Rezende/ Especial para o Yahoo! Brasil
Exercer a curiosidade com o próprio corpo é uma das maneiras mais saudáveis de se autoconhecer. A publicitária Fernanda Ribeiro se masturba quase que diariamente. Ela começou cedo, aos 6 anos. "Descobri que, durante o banho, o chuveirinho me fazia sentir uma cócega deliciosa. Desde o início, eu achava que era uma coisa que tinha que fazer meio escondida, não queria que meus pais me vissem fazendo aquilo. Hoje percebo que se trata de uma necessidade pura do ser humano, é instintivo, tem uma força incrível", conta Fernanda.
Muitas mulheres não têm a coragem de admitir o mesmo que ela, que se masturbam, que gostam de experimentar as sensações que a sexualidade proporciona.
Segundo o psicólogo e pesquisador do IPASEX (Instituto Paulista de Sexualidade), Diego Henrique Viviani, "estamos habituados a ver os meninos serem incentivados à prática masturbatória, enquanto as meninas são incentivadas a não se manipular, repreensão baseada em uma série de mitos e crenças ineficazes à realidade como, por exemplo: "menina de família não deve fazer isso", "vai machucar", "perde o desejo sexual" e mais dezenas deles".
Os mitos da masturbação
Ao longo da história da humanidade, muitos mitos surgiram para criar um processo de repressão moral e religiosa da masturbação. Na Idade Média, masturbar-se era considerado um grave ato pagão, chegando a ser punido com a morte na fogueira.
Ao contrário do que foi dito pelo psicanalista Sigmund Freud, em 1895, a prática masturbatória clitoriana não faz com que a mulher perca a aptidão para o orgasmo vaginal. Para Diego Viviani, "a automanipulação não é prejudicial. Pelo contrário, ela é benéfica, ajuda a pessoa a se conhecer, a entender o mecanismo do seu corpo para obter prazer individualmente e na relação sexual".
Todos nós temos direito ao sexo
A saúde sexual é considerada um direito humano básico pela WAS (Associação Mundial pela Saúde Sexual). Segundo a Declaração dos Direitos Sexuais, "a sexualidade é uma parte integral da personalidade de todo ser humano. O desenvolvimento total depende da satisfação de necessidades humanas básicas, tais como desejo de contato, intimidade, expressão emocional, prazer, carinho e amor".
A publicitária Fernanda Ribeiro completa: "Dar prazer ao próprio corpo é uma coisa muito bonita, em minha opinião". Ela acredita que criar essa intimidade pode não ser fácil para algumas pessoas, "por questões sociais e culturais, mas se conhecer e se satisfazer é maravilhoso, e a mim sempre fez muito bem. Nada de culpa".
O papel de aprender a realizar o prazer não deve ser somente de uma das partes num relacionamento. Guilherme Paes conta que sua namorada nunca tinha atingido o orgasmo com penetração, além de afirmar nunca ter se masturbado. "Ela era mais nova que eu e muito tímida. Queria que ela tivesse tanto prazer quanto eu, então resolvi, literalmente, dar uma mãozinha", brinca. Ele conta que primeiro estimulou-a com o sexo oral, com as mãos e até comprou para ela um vibrador. "Hoje ela não tem problemas para gozar e se vira bem sozinha quando não estou por aqui", diz Guilherme, que trabalha no ramo de hotelaria e viaja frequentemente.
Use a criatividade!
O pompoarismo é uma das muitas maneiras de se autoestimular. Para quem ainda não está familiarizado, pompoarismo é uma técnica milenar oriental e consiste na contração voluntária do períneo. Pode ser praticada tanto por mulheres quanto por homens. Nas mulheres, o períneo se encontra entre a vagina e o ânus. Nos homens, entre o saco escrotal e o ânus.
A prática feminina se dá através do uso bolinhas ligadas por um cordão de náilon, conhecidas também como bolinhas tailandesas ou ben-wa.
Um dos objetivos do pompoar é fazer com que a mulher tenha um maior domínio do seu corpo durante a relação, atingindo junto ao parceiro o prazer máximo. É uma forma de exploração mútua de prazer. A mulher perde o pudor com o próprio corpo e eleva sua autoestima.
Além de proporcionar mais prazer à vida sexual de um casal, o pompoarismo também evita problemas de saúde ligados à musculatura da região. Maísa Pacheco é proprietária da Sex Shop Vênus, uma loja especializada em produtos eróticos no movimentado cruzamento entre a Rua da Consolação e a Avenida Paulista, em São Paulo. Ela diz que a procura pelo ben-wa é crescente, não só por jovens, como também por senhoras idosas. "Elas buscam o ben-wa por recomendação de fisioterapeutas, pois o exercício auxilia nos problemas de incontinência urinária e bexiga baixa".
Existem atualmente no mercado sexual diversos produtos estimulantes para o prazer feminino e do casal. Maísa Pacheco afirma que o número de mulheres que procura por vibradores, brinquedos eróticos, géis térmicos é superior ao número de homens. Segundo sua funcionária Cláudia Campos, o preferido entre as clientes é o gel térmico, que "além de facilitar a penetração, [o gel] quando esquenta, estimula ainda mais a relação".
Os vibradores elétricos e os consolos de borracha também estão entre os favoritos das mulheres. "Hoje em dia, mulher nenhuma tem vergonha de entrar numa Sex Shop e comprar um vibrador, algumas para brincar sozinhas, outras com parceiro ou parceira. Vale tudo", conta Maísa.
Procure alternativas
Fernanda Sousa raramente atinge o orgasmo com a penetração, seja com parceiro casual, seja com um namorado. Ao longo do tempo foi aprendendo várias formas de se divertir na cama. "Quando fui morar com o meu namorado, comprei um vibrador pequeno - desses que parecem um batom, para a gente brincar. Aí era bem mais fácil eu conseguir ter um orgasmo. Enquanto ele me penetrava, eu colocava o vibrador no meu clitóris. No fim, desenvolvemos uma forma para eu gozar, mesmo sem o vibrador. Era muito gostoso sentir um prazer tão intenso junto com ele, então comecei a me interessar por isso".
Um alerta!
Para o pesquisador do IPASEX, "a única maneira da masturbação ser prejudicial é no caso de uma compulsão sexual, pois, assim, a automanipulação irá ser usada a todo momento para diminuição de um estado de ansiedade, prejudicando o dia a dia dessa pessoa, atrapalhando em sua rotina e deveres.
Nesse caso, é necessário procurar ajuda especializada, pois pode ser que essa pessoa se machuque pela prática exacerbada, sem contar que ela acaba se colocando em comportamento de risco, procurando sexo a todo momento, muitas vezes com diversas parcerias e recorrendo à prática masturbatória quando não encontra sexo".
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