27 de jan. de 2009
O QUE FAZER COM O TRANSTORNO BIPOLAR?
Não é fácil. Conhecido até o início da década de 90 pelo nome de psicose maníaco-depressiva, o transtorno bipolar nem sempre é fácil de ser identificado. Até receber o diagnóstico correto, um paciente pode ser levado a consultar-se com três médicos diferentes, num calvário que demora anos fora os meses necessários para chegar ao medicamento certo e às doses adequadas, depois de constatado o distúrbio. Reconhecer o transtorno bipolar na infância é ainda mais complexo. Na maioria dos adultos, as manifestações clínicas são clássicas o humor oscila de um extremo ao outro, da alegria incontrolável e raciocínio veloz à depressão e apatia. No caso das crianças, não é comum ocorrer essa gangorra emocional. A doença se apresenta por meio de uma conjunção de sintomas menos específicos, como impulsividade, irritabilidade, dispersão, agitação e acessos de raiva.
Por causa dos sintomas pouco específicos, é recorrente que a criança bipolar seja diagnosticada com outros males, como o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) e a depressão. Para fazer o diagnóstico diferencial, é preciso ficar atento a sinais de humor cíclico e analisar o histórico familiar. Quase metade das pessoas que sofrem de transtorno bipolar tem outros casos na família.
Até a década passada, os especialistas que defendiam que a doença podia aparecer em crianças eram vistos com reservas". Vinte anos atrás, publicavam-se cerca de dez estudos científicos por ano relacionados à bipolaridade infantil menos de um décimo do que se publica hoje. Há uma escassez de médicos capazes de reconhecer a desordem bipolar e como tratá-la. Crescer é muito difícil para crianças com desordem bipolar. A última coisa que precisamos é de diagnósticos errados e tratamento para o que não temos.
A constatação de que crianças manifestam o transtorno é positiva, já que antecipa o tratamento, mas tem uma contrapartida: um grande número de diagnósticos apressados. Muitos médicos sem experiência clínica com bipolaridade acabam por prescrever remédios pesados a seus pacientes, sem examinar mais a fundo o quadro. Outro problema que ocorre é gerado pelo fato de que a sociedade desconhece os transtornos mentais. Transtornos mentais em criança, pior ainda! Muita gente ainda acha que criança não deprime e que fica ansiosa. Criança, pensando em morrer? Ah! Imaginem, é muito pesado para os pais sequer levantarem essa hipótese... o que contribui para um desconhecimento dos sintomas e um atraso muito grande na realização de um diagnóstico e tratamento. Vemos que normalmente a mãe percebe. Ah, a mãe desconfia. Ela pode até não saber explicar o que o filho dela tem, mas ela sabe que ele tem alguma coisa . O clima em casa e na escola fica sombrio e a angústia toma conta da família. Não tardam as brigas, os gritos, xingamentos e muitas vezes, a violência pode tomar conta daquela família. Separações são freqüentes. A sensação de impotência e incompetência toma conta de todos. Todos ficam como algemados, sem saber o que fazer. Uns, ficam esperando pelo dia de amanhã, pois quem sabe, Deus ajuda e o menino acorda mais calmo...
O Transtorno Bipolar do Humor na Infância e Adolescência é uma condição que precisa ser muito divulgada e conhecida por todos nós. Os portadores precisam conhecer a fundo o mecanismo do problema. A família também, pois assim eles se unirão e se fortalecerão, no sentido de conseguir calma e tranqüilidade para prosseguirem no tratamento de modo correto.
Evelyn Vinocur é psicoterapeuta cognitivo comportamental. Atua na área de saúde mental de adulto e é especializada em saúde mental da infância e adolescência.
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